Oncle Bernard – Uma Antilição de Economia

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"Oncle Bernard" dá uma autêntica aula de economia

Em parte é estranho, depois de mais de um ano do ataque contra a revista francesa Charlie Hebdo, encontrar a entrevista com Bernard Maris em “Oncle Bernard – Uma Antilição de Economia”.

Bernard Maris, o “Oncle Bernard” do título, economista e colunista do jornal satírico, assassinado naquela manhã de quarta-feira, dá sua entrevista nas instalações da redação da revista, gravada em 2000 pelo documentarista canadense Richard Brouillette, que usaria o vídeo em seu documentário “L’encerclement – La démocratie dans les rets du néolibéralisme” (O Cerco: A Democracia nas Malhas do Neoliberalismo, em tradução livre). A câmera vagueia pela redação do semanário, e é impossível não pensar que ali viria a ser a cena de um horrível banho de sangue anos mais tarde.

Mas este não é o foco principal do documentário. No filme, “Oncle Bernard” dá uma autêntica aula de economia. Com eloquência, sofisticação e humor, o economista nos faz mergulhar brutalmente na suja política contemporânea. Não procure por calma, suavidade e leveza neste filme, e muito menos neste assunto: você não irá encontrar!

Um plano fixo, algumas lentes de zoom. A cena está pronta! O minimalismo de Richard Brouillette colabora para tornar os discursos de “Oncle Bernard” mais fortes e enfatizados. O diretor permite que Bernard desvende, entre palestras e discussões informais, um pouco da economia deliberadamente obscurecida pelas forças dominantes do neoliberalismo e que se encontra bloqueada pelas grandes políticas monetárias.

Maris disseca assuntos que vão desde a microeconomia, ilusões relacionadas à racionalidade do consumidor e as relações entre empregadores e empregados em um suposto “mercado” de trabalho, mas sem perder o humor e a ironia que tornam a entrevista mais emocionante, no fim das contas, já que conhecemos o desenrolar dos fatos para aquele que nos fala na tela.

Bernard antecipa brilhantemente a crise de 2008, quase uma década antes de seu acontecimento, e também adverte contra o colapso da “nova economia”, como um bom professor do assunto. Ele compreende sem tentar impor sua teoria autoritária. Pena que com a sua morte tenha desaparecido um grande estudioso do assunto.

É raro que um filme pareça tão simples, porém acabe sendo tão elucidativo sobre o assunto que trata. Pena que para o filme ter acontecido tenha sido necessária a morte de seu “personagem” principal.

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