Estreando nas telonas com um papel que já dominava nos palcos, Barbra Streisand imortalizou sua versão de Fanny Brice em Funny Girl: A Garota Genial. A personagem, inspirada na artista real dos palcos da Broadway, é retratada como uma jovem ousada e fora dos padrões de beleza tradicionais, mas com carisma e talento suficientes para conquistar o mundo. Mais do que um musical biográfico, o filme funciona como uma vitrine perfeita para a estreia cinematográfica de Streisand, que não só canta e atua com excelência, como também transforma cada cena em um show particular.
A trajetória de Fanny Brice é contada sob a ótica da ascensão clássica do show business: da obscuridade nos guetos nova-iorquinos à glória nos palcos das Follies de Ziegfeld. Porém, o que diferencia Funny Girl de outras histórias semelhantes é o retrato íntimo de sua protagonista. Fanny não é apenas uma estrela em formação; ela é vulnerável, engraçada, romântica e obstinada. A atuação de Streisand vai além da imitação — ela reinventa Fanny como uma figura universal, que sonha alto e ama intensamente, mesmo quando isso lhe custa caro.

O relacionamento entre Fanny e o charmoso Nicky Arnstein, vivido por Omar Sharif, serve como o eixo do longa. A química entre os dois é palpável, e o contraste entre a estabilidade profissional de Fanny e a instabilidade emocional de Nicky dá origem a momentos tocantes e dolorosos. Sharif, com sua presença enigmática, traz um peso melancólico à história, intensificando os dilemas da protagonista entre o amor e sua própria liberdade.
Apesar da força da narrativa, é inegável que Funny Girl possui um formato tradicional de cinebiografia musical, com cenas que seguem a fórmula esperada de ascensão, crise e superação. Ainda assim, Streisand transcende os clichês, transformando cada número musical em uma extensão emocional de sua personagem. Canções como “People” e “Don’t Rain on My Parade” não são apenas interpretações técnicas impecáveis, mas declarações de identidade da própria Fanny — e, em certa medida, da própria Barbra.
A direção de William Wyler, veterano do cinema clássico, é segura, mas carece da leveza e sofisticação visual que outros mestres do gênero poderiam ter trazido. As cenas musicais, embora competentes, ficam aquém do brilho que Streisand entrega com sua performance. Mesmo assim, Wyler acerta ao manter o foco na jornada emocional da protagonista, permitindo que sua atriz principal domine o filme com naturalidade.

Streisand entrou para um seleto grupo de atrizes que venceram o Oscar por um papel que já haviam interpretado nos palcos. Sua performance é digna desse reconhecimento, não só pela potência vocal e presença cênica, mas também pela forma como confere profundidade emocional a uma personagem que poderia facilmente cair na caricatura. Em um gênero que raramente rende prêmios de atuação, ela se destaca com uma entrega rara e inesquecível.
Funny Girl: A Garota Genial permanece como um marco não apenas na carreira de Barbra Streisand, mas também no cinema musical. É uma celebração do talento, da ousadia e do direito de ser diferente — e ser amada por isso. Fanny Brice queria ser uma estrela. Streisand foi além: ela virou um ícone.




