No delicado contexto da Segunda Guerra Mundial, Abandonados apresenta uma narrativa humana e tocante sobre resiliência e transformação. Dirigido por Irving Pichel, o filme segue John Howard (Monty Woolley), um inglês rabugento em férias na França, que se vê inesperadamente encarregado de levar crianças à segurança da Inglaterra enquanto o país é invadido pelos alemães. Relutante no início, Howard embarca em uma jornada que mudará sua visão de mundo, desafiando seus preconceitos e sua resistência emocional.
A princípio, Howard concorda em ajudar um casal britânico, transportando seus dois filhos pequenos até a costa da Bretanha. No entanto, o grupo cresce à medida que a viagem avança, reunindo crianças de diferentes origens e nacionalidades, unidas pela necessidade de escapar do caos da guerra. Apesar das barreiras linguísticas e culturais, a convivência forçada gera laços de cumplicidade e afeto, criando momentos de calor humano em meio à tragédia.
A personagem Nicole (Anne Baxter), uma jovem francesa, destaca-se como a aliada inesperada de Howard. Embora a relação entre eles não tenha conotação romântica, ela é marcada por respeito mútuo e companheirismo, refletindo a solidariedade que surge nos momentos de maior adversidade. A jornada dos dois é ameaçada pela figura implacável do Major Diessen (Otto Preminger), um oficial nazista que adiciona tensão e perigo ao enredo.
O roteiro de Nunnally Johnson, adaptado do romance homônimo de Nevil Shute, combina elementos de drama e aventura com toques de humor e esperança. Embora o vilão nazista seja tratado de forma unidimensional, as interações de Howard com as crianças são profundamente humanas e cativantes. Woolley, em especial, entrega uma performance sensível, capturando a evolução de um homem endurecido que aprende a enxergar além de si mesmo.
Visualmente, o filme retrata com competência o caos da França ocupada, equilibrando cenários devastados pela guerra com momentos de tranquilidade. A direção de Pichel mantém o ritmo da narrativa, destacando os desafios e os triunfos da jornada. Pequenos detalhes, como as interações entre crianças de diferentes línguas, reforçam a mensagem universal de que a compaixão transcende fronteiras.
No final, Abandonados não é apenas uma história sobre guerra ou sobrevivência; é uma celebração do espírito humano e da capacidade de mudança. O filme nos lembra que, mesmo em tempos de escuridão, há espaço para atos de bondade que podem iluminar os caminhos mais sombrios.