Amadeus

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“Amadeus” é, sem dúvida, um clássico moderno

A maioria dos filmes sobre artistas (pintores, compositores, autores, etc.) tendem a ser enfadonhos e sem inspiração, tornando o tema do filme muito menos interessante do que o trabalho do seu biografado. Amadeus é uma exceção a essa regra. Na verdade, é sem dúvida um dos melhores filmes já feitos sobre o processo de criação e seu criador. Ao optar por não ser um filme biográfico tradicional, o diretor Milos Forman e o roteirista Peter Shaffer criaram um retrato incrível de Wolfgang Amadeus Mozart, repleto de detalhes, com um drama poderoso e uma trilha sonora imponente (obviamente). Amadeus é uma conquista e tanto e merece cada um dos Oscars que conquistou em 1985.

Quando Forman soube da produção teatral de Shaffer, ele relutou em assistir, pensando que uma peça sobre Mozart poderia ser chata. No final da sessão, no entanto, ele estava determinado a transformar Amadeus num filme. Com o financiamento do produtor Saul Zaentz, Forman e Shaffer passaram quatro meses escrevendo o roteiro, pretendendo que o filme se concentrasse mais em Mozart (Tom Hulce) e menos em seu rival, Antonio Salieri (F. Murray Abraham), como na peça. Eles detalharam precisamente como as composições de Mozart seriam usadas, uma vez que a partitura seria parte integrante da história, e não apenas peças jogadas aleatoriamente para instruir o público sobre a resposta emocional adequada para as cenas.

Amadeus segue os últimos 10 anos da vida de Mozart, período que passou principalmente em Viena. De 1781 a 1791, o filme narra os triunfos e fracassos do compositor, vistos por Salieri, o compositor da corte do imperador Joseph II (Jeffrey Jones). O filme, na verdade, começa na década de 1820, com um Salieri idoso, confinado em um manicômio após uma tentativa de suicídio, oferecendo sua confissão a um padre. Sua história constrói a narrativa do filme.

Sem dúvidas, o personagem mais complexo do longa é Salieri. Embora seja apenas um compositor medíocre, ele é talentoso o suficiente para reconhecer um verdadeiro gênio quando o encontra, e ele encontra Mozart. Para acrescentar indignidade à injúria, Salieri leva o que a maioria consideraria uma vida sem graça – evitando sexo, bebidas e dedicando-se ao serviço do homem e de Deus – enquanto a existência de Mozart é de excessos e libertinagem. Apesar disso, é a música de Mozart que revela Deus, não a de Salieri, e ele sabe disso. Ele é torturado por isso, e sua inveja o leva a buscar a queda de Mozart. Para isso, ele brinca com a mente do compositor, chegando ao ponto de enganá-lo, mesmo moribundo, para que escreva seu próprio réquiem (que Salieri planeja roubar e reivindicar como seu).

Como retratado no filme, Mozart é uma criança mimada no corpo de um homem adulto. Na verdade, embora ele seja um mestre da música, as outras áreas da sua vida estão em um estado de perpétua adolescência. Como muitas estrelas do rock de hoje, ele caminha pelo mundo, esperando que o mundo se adapte a ele e vivendo muito além de suas posses. Ele ama sua esposa, mas é infiel a ela. E ele é dedicado ao pai, mas assombrado por sua memória quando morre.

Amadeus não pretende ser uma representação precisa do Mozart histórico. Os cineastas tomaram inúmeras liberdades em nome do drama. Ao desenvolver a peça, Shaffer utilizou muitos incidentes não comprovados da vida do compositor, mas sua intenção era construir uma história envolvente, e não regurgitar fatos conhecidos. Na verdade, há poucos registros históricos que sustentem a afirmação de que o ciúme de Salieri o levou a minar Mozart.

O filme é mais uma grande produção dirigida pelo talentoso Milos Forman. Nove anos antes, ele fez Um Estranho no Ninho e 12 anos depois, O Povo contra Larry Flint se tornou o queridinho da crítica (e rendeu a Forman sua terceira indicação como Melhor Diretor). No entanto, de todos os projetos em que Forman esteve envolvido, nenhum foi mais sensacional do que Amadeus. Ele jamais conseguiu superá-lo.

Você dificilmente encontrará melhor representação cinematográfica de um gênio, de sua arte e do seu artista, do que aqui. O filme não é apenas um estudo de personagem fascinante, mas também apresenta uma tragédia de proporções shakespearianas no triângulo formado por Mozart, Salieri e Deus. Nenhum outro filme entrelaçou a música com sua trama com tanta eficácia. Muitos outros tratam o som como um complemento aos aspectos visuais, Amadeus os vê como iguais. Os amantes da música clássica ficarão encantados com a trilha sonora, mas quem prefere a música moderna será apresentado a uma nova dimensão musical, e não ficará entediado. Amadeus é, sem dúvida, um clássico moderno.

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