Em Aos Pedaços, Ruy Guerra nos convida a mergulhar em um thriller psicológico complexo e fascinante, onde os limites entre a realidade e a obsessão se diluem. A narrativa labiríntica nos apresenta Eurico Cruz, um homem atormentado por fantasmas do passado e assombrado por um futuro incerto.
Em uma trama que prende do início ao fim, Eurico Cruz (Emílio de Melo) vive entre duas casas idênticas, cada uma habitada por uma de suas esposas. A chegada de um estranho e um bilhete misterioso assinado apenas por “A” desencadeiam uma série de eventos que o levam a questionar sua própria sanidade. A partir daí, somos conduzidos por um quebra-cabeça emocional, onde verdades e ilusões se misturam, e o suspense cresce a cada cena. Sua vida se torna uma grande espiral de paranoia, desconfiado de seus dois amores e do resto das pessoas ao seu redor. Quem realmente o ameaça? Os espaços, os personagens, as suspeitas e as paixões se embaralham nesse quebra-cabeça que, cada vez mais, confunde realidade e obsessão.
A fotografia em preto e branco de Aos Pedaços é um deleite visual e a estética da insanidade. A luz e sombra se alternam, criando uma atmosfera opressiva e claustrofóbica, que reflete a instabilidade mental do protagonista. Os planos e enquadramentos passam a sensação de desorientação, nos colocando no centro do labirinto psicológico de Eurico.
O elenco de Aos Pedaços entrega atuações memoráveis. Eurico Cruz é interpretado com maestria, transmitindo a complexidade de um homem à beira do abismo. As personagens femininas, Ana e Anna, também se destacam, com performances intensas e carregadas de emoção.
Ruy Guerra, aos 93 anos, reafirma sua genialidade e ousadia criativa. Aos Pedaços é um filme que exige atenção do espectador, quebra convenções narrativas e nos convida a questionar a própria realidade. Uma obra que fica na mente, mesmo após o término da projeção.
Aos Pedaços foi premiado no Festival de Gramado nas categorias de Melhor Direção, Melhor Fotografia e Melhor Som.
