É incrível como As Bestas foi capaz de expor tão bem os temas que propõem discutir e ainda entregar aos espectadores um ótimo suspense. Estejam preparados para se sentirem enfurecidos e indignados com a história, que até os últimos minutos mantém nossa atenção e atinge as expectativas.
Antoine (Denis Menochet, de Bastardos Inglórios), é um professor que vive com sua mulher Olga (Marina Foïs) em uma pequena fazenda autossustentável. Eles vendem os vegetais que produzem no mercado local, reformam casas antigas que entregam sem custo à população, e defendem um estilo de vida que esteja em equilíbrio com a natureza. Tudo estaria perfeito se não fosse pelos outros moradores locais, principalmente a dupla de irmãos vizinhos. Enquanto a maioria do povoado vota a favor da venda de terras para construção de turbinas eólicas, o casal é contra, e por isso passa a ser visto como um impedimento na prosperidade dos outros moradores. É quando atividades suspeitas começam a acontecer.
O tom provocante que acompanha toda a história do filme começa já nos primeiros minutos, com as cenas iniciais de dois homens tombando um cavalo. As cenas são levemente desaceleradas e conforme a narrativa se desenrola, logo percebemos que o título não faz alusão somente a bestas animais. Inclusive, o cenário deslumbrante da Galiza espanhola, com paisagens bucólicas e o estilo de vida campestre, intensifica ainda mais as tragédias relatadas.
Esse detalhe, aliado à relativa simplicidade dos motivos que causam cada ação dos personagens, é o deixa o filme com aquela característica de “retrato da vida real”, em toda sua glória, ainda que sinistra.
A disputa por terras, escolhas de vida feitas por necessidade ou por opção, o impacto que a escolaridade ou a falta dela podem ter, a manipulação ou educação dos grupos através do discurso, preconceito, tudo isso é revelado de uma forma criativa, com um argumento muito bem amarrado em todas as suas pontas. E os plot twists são incríveis!
Quando menos esperamos o foco muda, a mesma cena ganha outro peso, outro ângulo para ser observada, e o desenvolvimento do que assistimos é todo diferente. Pode não ser de tirar o fôlego, mas nos deixa inquietos do início ao fim.
