“Nascida em meio a uma vida miserável e vendida ainda criança pela própria avó para o Bicheiro Amoroso, a única saída de Rebeca é crescer na criminalidade até se tornar a Bandida Número Um.”
Uma criança pequena que após uma travessura é forçada agora a passar os dias trancada em seu barraco esperando o retorno de sua mãe que trabalha longe. A realidade já dura, piora ainda mais, quando homens invadem sua casa para a levar embora devido a uma dívida de jogo que sua avó viciada possui.
E assim a obra nos apresenta Rebeca, que a partir desse momento traça um caminho sem retorno em busca de sobrevivência e uma vida mais digna, mas submersa no crime.
Sua trajetória na criminalidade se inicia sob a tutela de seu “padrinho”, o Bicheiro conhecido como “Seu Amoroso”, que com o tempo lhe dá cada vez mais responsabilidades, até finalmente lhe entregar um revólver como presente, oficializando ela como uma “bandida”. Desse momento em diante o drama de sua vida só escala, nos levando para uma montanha russa dentro da criminalidade, até o ápice da história.
A obra é baseada tanto em fatos reais quanto no livro escrito por Raquel de Oliveira, A Número Um, e nos conta a trajetória de Rebeca, desde sua dura vida enquanto criança, até se tornar a maior criminosa da Favela da Rocinha.
Sob a narração e ponto de vista de Rebeca, a ficção nos apresenta uma espécie de semibiografia, que do começo ao fim é envolta em drama e ação, nos contando a história de como uma inocente criança se torna a criminosa número 1 da favela, em um filme que exibe um ambiente duro e perigoso, com muita violência, traição e decisões difíceis, amor, relações tóxicas e um retrato social complicado.
Não é difícil traçar um paralelo comparativo com um outro filme nacional, Cidade de Deus, que também, em meio a drama e ação, busca contar uma história degradante, caótica e semi biográfica, a diferença é que Bandida: A Número Um é uma produção mais enxuta e com uma protagonista feminina.
No que diz respeito a roteiro e storytelling, o filme faz o que precisa ser feito, e o desenvolvimento da maioria dos personagens principais é satisfatório, sem muito o que possa nos fazer duvidar do porquê das suas atitudes.
Em parte a história se passa nos anos de 1980, e além da maquiagem, figurino, e de algumas tecnologias, a música é muito bem utilizada para compor a ambientação da época, com destaque para O Amor e o Poder da artista Rosana, e Deslizes de Fagner.
Outro ponto interessante são as breves inserções de efeitos visuais inesperados que chamam atenção para alguns aspectos do filme de forma criativa.
Infelizmente a obra, – seja por questões de roteiro ou de casting – não entrega um bom conjunto de atuações, sendo o único destaque, realmente, na conta de Milhem Cortaz como Seu Amoroso, que sem dúvidas enriqueceu bastante o filme.
No entanto, o ponto em que a obra realmente peca, é em ser mais um filme com exaltação à vida criminosa, colocando o malfeitor como uma espécie de “bandido herói”, em uma propaganda ideológica de subversão de valores.
Bandida: A Número Um, é uma obra no máximo OK, que de maneira estrutural, é até bem feita, mas, muito nichado, e que está longe de ser um filme com status de cinema.