Carol

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Parece que Hollywood – e onde quer que esteja sendo feito cinema mais comercial – vai aos poucos se acostumando com mulheres por trás das câmeras, negros protagonistas de grandes sagas, relacionamentos homoafetivos e qualquer situação fora do padrão imposto. Carol, dirigido por Todd Haynes, com roteiro baseado no livro homônimo de Patricia Highsmith, tem recebido atenção, mas ainda por tratar de um romance entre duas mulheres do que por todas as minuciosas denúncias sociais de época e qualidade técnica cinematográfica.

Durante os anos 50 a jovem Therese (Rooney Mara) trabalha em uma das maiores lojas de departamentos de Nova Iorque, é aspirante a fotógrafa e vive uma relação descompromissada com Richard, um sonhador que quer ir para a Europa e se casar. Carol (Cate Blanchett) é uma mulher rica, à beira de um divórcio complicado e que briga pela guarda da filha Rindy. Durante as vésperas de Natal, Carol vai até a loja de departamentos comprar uma boneca para sua filha e conhece Therese, a atração é instantânea e as duas vão aos poucos construindo uma relação que desafia não apenas a sociedade da época mas elas mesmas e as formas como se percebem.

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O enredo – que vale ressaltar, foi escrito no começo dos anos 50, ou seja, nenhuma novidade – em Carol foi habilmente adaptado pelas mãos de Phyllis Nagy, roteirista que já trabalhou com outras obras de Highsmith para o teatro. Aqui, Nagy faz um ótimo trabalho condensando e adaptando os rodeios que Highsmith cria no livro – que não funcionariam no longa – e isso sem perder a essência do romance. Aliás, a essência de uma história de amor, milhares de vezes retratada no cinema só que dessa vez com duas mulheres envolvidas em uma época que a homossexualidade era punida e tratada como doença menta.

Todd Haynes parece gostar bastante de passar para as telas histórias de amor que parecem impossíveis diante os códigos sociais. Muito parecido com Carol é Longe do Paraíso (2002), por exemplo, que também retrata os anos 40/50, relações homoafetivas e inter-raciais. Nas mãos de Todd e Nagy, Carol ganha novos contornos em relação ao romance. Ao passo que Highsmith – conhecida por ótimos thrillers – cria uma atmosfera de tensão entre Carol e Therese, aqui as cenas se desenvolvem com leveza, deixando o clima sombrio para a fotografia melancólica – e excelente, o filme foi rodado em super 16 – de época e a trilha sonora. Há uma delicadeza implícita na troca de olhares das personagens, aliás, com um elenco masculino reduzido o filme consegue dar diferentes dimensões para todo o código corporal das mulheres no filme.

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Cate Blanchett assume toda a elegância, força e beleza de uma protagonista. Assim como o filme leva o nome da personagem, ela não deixa por menos. São arrebatadoras as cenas em que ela vai se desenvolvendo e há de fato uma entrega da personagem à tímida e interessante Therese. Percebe-se uma certa homenagem à escritora do romance que originou o filme. Carol fuma de forma parecida com Highsmith, mantém o mesmo olhar certeiro e por vezes sedutor e misterioso. E Rooney Mara a acompanha, como se fosse um balé, uma levando a outra, sem medo de cair.

Uma história de amor no cinema, cheia de dificuldades, descobertas e concessões. Parece o tipo de roteiro já batido e que foi filmado dezenas de milhares de vezes e provavelmente não é diferente com Carol. A diferença do longa é a humanidade presente no enredo, escrito há mais de meio século mas ainda tratado como tabu, sobre situações tão corriqueiras quando tratadas do ponto de vista de um casal heterossexual. Nada como reeducar os olhos para uma uma boa história de amor, seja a época que for.

Nota:

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