Um salão de beleza no meio de uma zona de conflito, com um elenco formado por mulheres muçulmanas em um dia corriqueiro. Seus dias de miséria, suas vidas despedaçadas e suas relações amorosas fracassadas ou a esperança das jovens que ainda estão por iniciar uma vida de servidão em um matrimonio, são retratadas com bastante dureza pelos diretores Arad e Tarzan Nasser.
Para as personagens que vivem na Faixa de Gaza e já estão acostumadas com a zona de guerra e os tiroteios, que são algo comum em uma vizinhança destruída pelo conflito na região. Detalhes da guerra, da vida cotidiana, da política interna, sua visão de mundo, sua visão da inaptidão dos homens para governar e ao mesmo tempo sua submissão e passividade perante um regime que não têm forças para ir contra, pois seu papel nessa sociedade é tão insignificante como de crianças.
As cores, como esperado nos tons pasteis e por vezes mais quentes nos dão um pouco da sensação desse calor insuportável que o deserto e a falta de eletricidade e de ventilação causam. Quando a luz diminui somos levados por um certo desespero em não saber o que virá e nos deixa atônitos por um caminho incerto, no que o filme vai se encaminhando para o final.
A falta de recursos, a falta de amor próprio, as regras da religião que as personagens femininas sofrem nos transportam para uma realidade árida em que essas mulheres estão inseridas. Apesar de ser um filme que se enquadraria mais no gênero alternativo-drama, Dégradé nos conduz por um tênue fio de acontecimentos que nos leva para o já esperado – nem por isso menos emocionante – final.
Um filme político, poético, lírico e étnico que nos dá a oportunidade de reconhecer na alteridade de uma cultura diferente que o ser-humano é capaz de coisas horríveis e ao mesmo tempo dos mais belos atos de coragem e afeto. Dégradé, nos possibilita pensar política, guerra, feminismo, amor, afeto e rancor e pensar o ser-humano no seu mais profundo atributo: a capacidade de se relacionar com a alteridade e juntos construir uma coexistência possível.