O termo “Capra-corn” (Milho-Capra, em tradução literal) foi cunhado para filmes como este: filmes dirigidos por Frank Capra que enfatizam as melhores partes da natureza humana. Com o diretor Frank Capra (Aconteceu Naquela Noite), não importava o quão escuras as coisas ficassem no decorrer dos seus filmes, sempre havia uma luz no fim do túnel. Capra foi mais popular durante os anos 1930 – período no qual a Grande Depressão ainda era uma lembrança recente para os americanos e as nuvens da guerra se espalhavam da Europa para o mundo.
Do Mundo Nada se Leva foi um alívio para um povo cansado da Depressão e que começava a se recuperar economicamente. A tríade otimista do filme – o triunfo da boa vontade sobre a avareza, o amor vence tudo, e a importância da família sobre as posses – torna-o mais animado até do que A Felicidade Não se Compra, que muitas vezes é rotulado como o filme mais otimista de Capra.
O filme começa num escritório de um arranha-céu de Nova York, na Kirby and Co., uma enorme corporação bancária que aparentemente floresceu durante a Depressão e agora está comprando terras como parte de um plano complicado para criar um monopólio. Anthony P. Kirby (Edward Arnold, de A Mulher Faz o Homem) fica irado com um obstáculo na vizinhança – alguém não vende sua propriedade mesmo quando lhe é oferecido quatro vezes o valor de sua casa. O homem, chamado Martin Vanderhof (Lionel Barrymore, de Grande Hotel), tem uma explicação simples para sua reticência: ele valoriza mais as memórias e a importância da propriedade do que o dinheiro. Kirby, que não está acostumado a ter seus planos frustrados, ordena que seu corretor de imóveis use todo e qualquer meio para expulsar Vanderhof – ameaçando-o de perder sua comissão.
Enquanto isso, o filho de Kirby, Tony (James Stewart, de Um Corpo que Cai), vice-presidente da empresa, embarca em um romance com sua secretária, Alice (Jean Arthur, de Os Brutos Também Amam). Sem que ele saiba, ela é neta de Vanderhof e mora na casa que o pai de Tony deseja tão desesperadamente. Assim que Tony convence Alice a se casar com ele, eles decidem a melhor maneira de arquitetar o encontro entre suas famílias tão diferentes: os Kirbys de sangue azul e os Vanderhofs boêmios. Alice planeja um jantar elaborado e encoraja seus parentes a se comportarem da melhor maneira, mas Tony estraga tudo trazendo seus pais na noite errada, os expondo assim as excentricidades dos seus futuros sogros. O noivado corre sérios problemas.
Apesar de certos elementos dramáticos, Do Mundo Nada se Leva é uma comédia maluca clássica, embora a abordagem de Capra seja mais contida do que em Aconteceu Naquela Noite, por exemplo. Embora muitas das piadas, que variam de diálogos de duplo sentido a comédias físicas menos sofisticadas, provavelmente tenham encantado o público na década de 1930, elas não são muito provocadoras de riso hoje em dia. O filme é divertido, mas não provoca gargalhadas, com muito do humor parecendo antiquado para o público de hoje.
Sobre os atores: em 1938, Stewart era mais conhecido por sua boa aparência do que pelos filmes que tinha feito. O ator ainda trabalharia mais duas vezes com Capra, e sua segunda colaboração (A Mulher Faz o Homem) renderia sua primeira indicação ao Oscar. Já Jean Arthur, era a protagonista favorita de Capra, foi a rainha das comédias malucas durante os anos 1930. A diferença de idade dela com Stewart (ela era sete anos mais velha) não impediu ninguém de achar que o casal funcionaria. Do Mundo Nada se Leva foi um dos últimos filmes de Arthur. Ela se aposentou em meados dos anos 1940, depois de uma carreira longa e produtiva.
A ironia está no Martin Vanderhof, de Lionel Barrymore. Ele é o antimaterialista perfeito, valorizando o amor, a família e o companheirismo acima de qualquer outra coisa (principalmente o dinheiro). Ele é bem-humorado e raramente perde a paciência. Ele é basicamente um velho gentil – o tipo de avô que todos gostaríamos de ter. O Sr. Potter, personagem que Barrymore faria em A Felicidade Não se Compra, também com Capra, é a antítese direta de Vanderhof – um avarento mesquinho que vive para deixar todos tão infelizes quanto ele. Um testemunho de que a versatilidade do ator era grande, embora ele seja mais lembrado pelo seu Sr. Potter.
Robert Riskin, colaborador frequente de Capra, escreveu o roteiro, a partir da peça de George S. Kaufman e Moss Hart. Depois de assistir à peça, Riskin ficou impressionado com a proximidade do material com a visão de mundo de Capra e, como resultado, fez poucas mudanças fundamentais na história ou estrutura, segundo relatos.
Quanto ao teste do tempo, Do Mundo Nada se Leva não se sai tão bem quanto Aconteceu Naquela Noite. Parte do problema é a natureza do humor – poucas comédias malucas parecem tão boas hoje quanto deviam parecer em sua época. Há uma inocência que permeia o filme que também não funciona tão bem em tempos que valorizam um humor mais ácido. Ainda assim, Do Mundo Nada se Leva oferece duas horas agradáveis o suficiente junto a um lembrete dos critérios específicos que toram um filme elegível para um Oscar.