Assim que você começa a assistir Eles Só Usam Black Tie, percebe que não está ali para mais um filme qualquer sobre adolescentes. O filme sul-africano, escrito, dirigido e estrelado pelo estreante Sibs Shongwe-La Mer, já começa de cara com uma garota se enforcando no “quintal” da mansão onde mora. E assim que você conhece os amigos e conhecidos da garota, todos moradores da cosmopolita Joanesburgo, você logo percebe que as dores do crescer são basicamente as mesmas em qualquer lugar.
A história têm diversos personagens (na verdade um número exagerado de adolescentes e histórias, que complica a trama e seu entendimento), mas vamos seguir basicamente dois: o personagem principal, Jabz (Bonko Cosmo Khoza), e seu melhor amigo, September (o próprio Sibs). Eles são os novos negros ricos de Joanesburgo, que vivem como se o preconceito não existisse mais, apesar de vermos exemplos claros de que ele existe sim, apesar de ser velado. No aniversário da morte da amiga Emily, os dois adolescentes e outros colegas são convidados a participar de um documentário para falar sobre a garota. E a maioria não tem muito para acrescentar, mesmo os amigos mais chegados.
E esses adolescentes trafegam pela vida, experimentando com sexo, drogas das mais diversas, bebidas, e mantêm vínculos com colegas e amigos por pura necessidade; e quando a necessidade não está mais presente, a pessoa não importa mais, é descartável, como o adolescente que tem uma overdose e é simplesmente despejado no meio da rua, enquanto as pessoas com as quais ele estava se divertindo há pouco justificam que ele não era ninguém conhecido. E essa falta de conexão com as pessoas, as possibilidades quase que irrestritas devido ao dinheiro dos pais, mas que em contrapartida vem cheio de pressão por decisões acerca do futuro que esses adolescentes não estão preparados para tomar, e talvez jamais estarão, a seus olhos, faz com que os personagens se sintam pressionados, assim como Emily, a garota que se suicidou lá no comecinho do filme, se sentiu.
Além do tema super atual, com ritmo muito bom e que te prende (apesar de o filme parecer um pouco confuso em alguns momentos), ele tem uma fotografia muito bacana, um lance meio documentário (com um documentário sendo rodado dentro do filme, sobre a Emily), mas sem conhecermos profundamente esses adolescentes, o que nos deixa sempre sem saber ao certo o que eles vão fazer em seguida (que é mais ou menos o que parece que eles estão sentindo meio que o tempo todo). Vale a pena conferir o filme, sem dúvida, no cinema e com pipoca.