O documentário acompanha a trajetória da criação e lançamento do álbum que juntou Elis Regina e Antonio Carlos Jobim. O filme, gravado pelo produtor Roberto de Oliveira, traz o registro feito em Los Angeles, e reúne material de bastidores guardado desde então.
A ideia nasceu numa conversa informal do próprio Roberto com o então casal Elis e Cesar Camargo Mariano. Elis foi muito criticada pelo meio acadêmico, cultural e artístico por ter cantado nas Olimpíadas do Exército, em 1972, por isso estava sendo discriminada. Tom, por sua vez, estava morando nos EUA e andava muito chateado, segundo Nelson Motta (que aparece no documentário), com a Bossa Nova em baixa. Estas duas situações pessoais proporcionaram um álbum incrível, inesquecível. Pois, se não fosse isso Elis & Tom, Só Tinha de Ser com Você não aconteceria.
Elis era muito exuberante e parecia ser um choque juntá-la com Tom. Ele, por sua vez, denotava uma certa resistência em relação a ela. Quando soube que o marido da cantora seria o responsável pelos arranjos do disco, tratava Mariano com desdém, criticando o jeito “moderno” dele tocar e zombando de seu piano elétrico.
A tensão nos bastidores foi tão grande que Elis chegava no hotel desesperada, roía as unhas sem parar e até fez as malas para ir embora. Foi dissuadida por Roberto Menescal, executivo de sua gravadora, que voou do Brasil para os EUA para acalmá-la. Dizia não conseguir conversar com Tom. Em contrapartida, Tom se sentia tenso, menosprezado por Cesar Mariano ser diretor. Ele, que já era consagrado internacionalmente, já tendo gravado com Frank Sinatra, que na época transformou a música dele, pois Sinatra era perfeccionista e dedicava-se a gravar pela primeira vez com um brasileiro.
Beth Jobim, na época com 16 anos, relata lembrar de como o pai estava aborrecido com toda a situação. O filme, muito bem feito, mostra o Making Of de uma maneira esplêndida. Hoje não seria possível tanta naturalidade, é algo que só existia naquela época, não instagramável. Tudo fica muito bem amarrado, João Marcello Bôscoli, filho da cantora com o primeiro marido, Ronaldo Bôscoli, relata situações que fazem muito sentido. Aliás, todos que foram chamados para o documentário contextualizam muito bem o desenrolar do enredo.
O disco é uma gravação histórica e lendária. Como diz João Marcello: “Quase se transformou no maior disco não feito da história!”. Tinha tudo para dar errado. A MGM Studios estava de férias na época, por isso Humberto Gatica teve que assumir a gravação. Em 1974 Los Angeles efervescia, era muito mais livre, muito mais aberta, diferente do Brasil que estava imerso na ditadura militar. A conclusão do trabalho traz uma Elis mais suave, mais calma, mais concisa e precisa. Tom ajuda a transformar nossa pimentinha. Ela, que era um furacão, culmina na maturidade musical graças à “música boa” de nosso Maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Foi gratificante para ambos!
Roberto de Oliveira, diretor de Elis & Tom, só lançou o filme com registros raros, após 48 anos, por acreditar que quanto mais tempo passasse mais fácil seria contar a história. O disco em questão tem reputação internacional. Elis e Tom já se foram, e assim o milagre das águas de março fecharam o verão de 1974… Tom passou a respeitar as propostas de inovações de Mariano. Eles vão se desarmando e nós, espectadores, temos a impressão de sermos testemunha privilegiada desta icônica gravação. É uma “Chuva boa prazenteira que vem molhar a roseira…”
Simplesmente um dos melhores documentários brasileiros que eu já vi!