Um paralelo musical entre três histórias. Rita (Zoe Saldaña), uma advogada frustrada profissionalmente, que é recrutada por um cruel chefe de cartel mexicano para conduzi-lo em uma mudança definitiva de vida; Emilia (Karla Sofía Gascón), que se vê dividida entre um passado cuja identidade está ligada ao terrorismo dos cartéis e o amor por seus filhos; e Jessi (Selena Gomez), uma jovem viúva que, após muitos anos em exílio, se vê presa entre o sonho de seguir a vida e as consequências da morte de Manitas.
Após um dos atos musicais mais desconcertantes do cinema, intitulado “La Vaginoplastia”, o cruel Manitas sai de cena para a entrada da piedosa Emilia. A nova vida de Emilia Pérez é marcada pela construção de uma identidade que busca redenção — talvez a maior frustração que encontramos no roteiro de Jacques Audiard — e pela angústia de sustentar distância entre sua família enlutada. A atuação pouco comovente de Karla Sofía Gascón é um fator catalisador para a quebra das expectativas positivas do público.
Zoe Saldaña é o grande destaque da história. A construção de Rita é cativante, com momentos de tensão e agonia que justificam o gênero thriller, e chega ao ponto mais alto durante sua interpretação da música “El Mal”. A performance conta com o apoio de uma direção criativa por Audiard e uma dinâmica de câmeras animadora. Apesar de ser creditada como coadjuvante, Saldaña se revela a personagem mais forte da trama e faz isso com maestria.
O desenvolvimento da relação entre as três personagens se direciona para uma grande colisão, que acontece em mais um ato musical frustrante, intitulado “El Trío”. A dinâmica entre Jessi e Emilia é um dos pontos de maior fricção da história. A atuação de Selena Gomez não impressiona, mas também não deixa a desejar.
O líder em indicações ao Oscar 2025 está longe de ser o melhor filme que você irá assistir, mas também não chega a ser o pior. Embora seja intitulado como musical, poucas canções se destacam, seja pela letra ou pelo ritmo. Emilia Pérez se apresenta como uma obra de médio alcance: não é particularmente memorável, mas possui ganchos interessantes que poderiam transformar a história, embora, no final, caia em alguns clichês insensíveis. Há também uma certa sensibilidade ausente ao lidar com temas como estereótipos de gênero e até mesmo a crise humanitária no México, que acaba sendo abordada de maneira superficial.