Era Uma Vez Um Sonho

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Filme com Amy Adams apresenta uma história de superação que não é digna de orgulho

Sabe quando pessoas da família dizem que quando crescermos nós vamos entender como é? Parte dessa pressão psicológica sobre o que esperar do futuro vem de sacrifícios, frustrações e lições da vida. Quando a gente cresce, a maior vontade é de mudar de cidade e se afastar de tudo aquilo que nos tornou quem somos, mas parte disso surge pela promessa de se tornar alguém diferente e melhor. Mas será que todo mundo tem essa chance?

Era Uma Vez Um Sonho, novo filme do diretor Ron Howard, estreou na Netflix com promessa de Oscar ao contar uma história de superação. Bem, o filme faz todos os requisitos queridinhos da premiação e acerta em todos os termos técnicos sem sombra de dúvidas. O longa é inspirado na história real de J.D. Vance, um menino do interior dos Estados Unidos que viveu uma infância conturbada com sua mãe instável e dependente química, num contexto que revela a parcela branca e pobre norte-americana. Parte dessa premissa que a gente já viu inúmeras vezes sendo retratada por Hollywood, fala dessa instabilidade familiar criada pelo conformismo das escolhas. O grande exemplo disso é Beverly, a mãe de J.D. interpretada pela excelente Amy Adams, que é aquela mãe barulhenta e cheia de sonhos interrompidos. Pena, que sua personagem sirva apenas de alegoria e cenas fortes para conduzir a jornada do protagonista. Falta profundidade para entender o porquê uma garota brilhante e superinteligente desmorona numa mulher drogada, que não se mantém em nenhum emprego e que troca de namorado o tempo todo. Além de Amy Adams no time, Glenn Close, que dispensa qualquer apresentação, faz o papel da avó matriarca que iniciou esse ciclo vitimista de três gerações e serve como a maior inspiração para que J.D. entre na faculdade e tenha sucesso na vida.

O problema surge quando o filme tenta impor o termo “sem desculpas” guela abaixo ao romantizar uma cultura em crise e que orgulha de suas raízes. Mas é melhor pensar no ponto principal do roteiro que basicamente fala sobre herança familiar. Esse sim é o tema do filme, que mostra como condescendente muitos de nós somos dentro de um núcleo familiar quebrado que nos puxa como um imã, impedindo que o ciclo se quebre. Isso, sendo certo ou errado, é uma realidade até para famílias ricas que convivem com heranças ancestrais igualmente fortes. Claro, sem dúvida nenhuma, os caipiras retratados no filme os eleitores racistas, acomodados e preguiçosos de Donald Trump, que permitem e entendem esses comportamentos abusivos como construção de caráter. Porém, o filme não se presta a fazer julgamentos e sim emocionar, coisa que o diretor conseguiu fazer deixando apenas no imaginário do espectador um dos acontecimentos mais apelativos às lágrimas.

Será que o sonho do Oscar vai se realizar? Trocadilhos a parte com o título nacional, mesmo com tanta polêmica e com várias questões que poderiam muito bem serem amarradas pelo filme, o resultado final entrega uma produção regular de um filme interessante e muito bem filmado, que se esforça a todo momento no básico do popular, mas que se resume ao elenco extraordinário e uma jornada que não é digna de se orgulhar.

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