Para ver esse filme você vai precisar de 3 coisas: capacidade de um nível estratosférico de empatia (a.k.a se colocar no lugar do outro), uma cobertinha e paciência.
Esses podem não ser os requisitos mais inusitados na hora em que se pensa em assistir a um filme novo, e em Ervas Secas você vai usar todos eles!
O professor Samet (Deniz Celiloğlu) já cumpriu seus anos de docência obrigatória na pequena vila onde trabalha, agora, ele pretende conseguir transferência para Istanbul e se estabelecer na nova cidade. Porém, seus planos, seja por ação própria ou de terceiros, vão sofrer algumas mudanças consideráveis, e talvez ele não esteja preparado para o que está por vir.
Assim como outros longas que exploram amplamente o cenário em que estão envolvidos, a região do interior da Turquia no auge de um rigoroso inverno é o que vemos neste caso (por isso a cobertinha!). Tudo parece mais difícil para os personagens, mais precário, e os nuances escondidos da história mais propícios de acontecerem devido a esse clima. Uma escolha de mestre feita pelo diretor Nuri Bilge Ceylan.
Além da questão climática, e este é o ponto em que a paciência entra em cena, cada conversa importante travada entre os personagens, os segredos compartilhados, os jogos de interesse, as cobranças, são feitas em planos sequência que em diversos casos se resumem a apenas um ângulo de câmera. Cansativo? Sim, e muito. É definitivamente um ponto que tem seu valor artístico e toca muito na vida real, mas que exige bastante de quem for assistir.
Se mesmo depois de passar um pouquinho de frio ilusório e se cansar com os diálogos você felizmente decidir insistir e assistir a Ervas Secas, vai encontrar na narrativa um prato cheio de conflitos com os quais todos nós podemos nos identificar: o bem e o mau, condutas profissionais, relações de poder, inocência, vingança, aquilo que é moral e aquilo que “todo mundo faz”.
No fim percebemos como alguns aspectos da vida estão atrelados à condição humana muito mais do que a sociedade em que se vive, e por isso se repetem nas nossas vidas e de qualquer pessoa. Só precisamos estar vivos e atentos para percebê-los.