Eu Nunca… 2ª Temporada

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Série evolui o conceito de rebeldia e imaturidade dos adolescentes com uma excelente nova temporada

Quando a primeira temporada de Eu Nunca… estrou em 2020, a discussão sobre essa nova geração de adolescentes não era uma novidade, exceto por um detalhe. Enquanto séries como Riverdale, Elite, O Mundo Sombrio de Sabrina e outras, transformavam seus personagens de 15, 16 anos em projetos de adultos com assuntos mal resolvidos e complexos, a série criada por Mindy Kaling fez exatamente o contrário e abusou da inocência para levantar temas relevantes e importantes para a nova geração. A hiperssexualização que ronda as produções adolescentes, tem criado uma ilusão completamente deturpada do que realmente significa ser um adolescente e pior ainda, dá uma ideia de que essa busca inerente por ser adulto e dono de si seja algo muito fácil de alcançar, mas a gente sabe que não é assim.

O melhor de Eu Nunca… é justamente tratar seu elenco como os adolescentes que são em todos os níveis de imaturidade e que ao competirem por atenção ou se sentirem ameaçados, mostram atitudes não muito agradáveis e nem sempre vamos concordar com suas decisões. Mas é totalmente plausível imaginar aqueles cenários através da perspectiva deles. Devi, a protagonista vivida pela incrível Maitreyi Ramakrishnan, não poderia ser mais real nesse sentido, já que todos os seus inúmeros erros ganham consequências, que no mundinho dela, são muito graves e são responsáveis por criar a base de seu caráter. Ela interpreta uma garota indiana, nerd e que está longe de ser popular, mas o sentimento de ser completamente invisível faz com que ela planeje coisas malucas e desesperadas como o plano de perder a virgindade na primeira temporada. Já no ano 2, ela tenta conciliar a árdua tarefa de ter dois namorados, Paxton (Darren Barnet) e Ben (Jaren Lewison). E nessa parte a série evolui mais um degrau de discussão de uma forma muito sutil, assim como todas as outras. Ora, por que uma menina é apedrejada por sair com dois caras ao mesmo tempo, mas se fosse um cara fazendo isso, ele seria celebrado? Mas não só isso, porque uma mulher é sempre chamada de louca quando erra?

É nesse momento que Paxton ganha mais peso na série e seu personagem recebe um desenvolvimento inesperado, que também é baseado na imaturidade natural dos meninos de sua idade, inclusive em suas falas. Mas o que mais chama atenção é como ele simboliza a forma como a sociedade cria a maioria dos homens para serem machistas e não há qualidade extra que apague esse tipo comportamento, afinal ele dá inúmeras mancadas e Devi, por falta de experiência e carência por atenção, acaba acatando todas na ilusão de um relacionamento que se baseia em migalhas de reciprocidade ou, seria talvez, a origem dos traumas amorosos de todo adolescente? É um argumento bem honesto e imparcial por parte do roteiro. Agora saindo um pouco do mundo dos adolescentes, a prima adulta de Devi, Kamala (Richa Moorjani), é uma das melhores personagens femininas da série, com uma representação apropriada do que significa ser uma mulher numa posição de prestígio, mas que é podada por homens no comando, isso tanto no trabalho quanto nos relacionamentos.

 

Ainda que pareça, a série não é só sobre feminismo e trabalha outras arestas sociais que impactam sutilmente sua audiência com um humor certeiro e um trabalho apurado do roteiro em representar esses universos com responsabilidade e compromisso com o tom certo. Eu Nunca… é digna de maratona. Uma produção especial, leve e cheia de referências deliciosas à cultura pop.

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