Euphoria – Fuck Anyone Who’s Not a Sea Blob

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Com texto primoroso, episódio especial dá o destaque merecido para Jules

Após uma primeira temporada muito bem sucedida, Euphoria ganhou 2 episódios especiais que antecipam a aguardada segunda temporada. Um deles foi um episódio totalmente dedicado a Rue, afinal Zendaya havia ganhado o Emmy de melhor atriz pela série e seu talento obviamente seria colocado à prova mais uma vez. Infelizmente, o episódio sofreu pelas medidas de segurança contra a COVID-19 e não conseguiu ter outros recursos imagéticos para compor toda a história, que teve que se sustentar apenas como era a proposta, de ser um confessionário aberto entre Rue e Ali. Acontece que a premiação prematura de Zendaya ainda fez com que seu personagem soasse cada vez mais vazio. Sem muita profundidade, Rue só tem dois lados: o fundo do poço e a dependência. Essas duas linhas se esgotaram já na primeira temporada, em que seu personagem só se manteve no mínimo interessante pela presença lúdica de Jules, interpretada por Hunter Schafer.

Pode ser, que por interpretar uma personagem tão próxima de si e ter escrito o episódio junto com Sam Levinson, tenha ajudado Hunter na missão de transmitir tantos elementos de Jules, que no segundo episódio do especial, Fuck Anyone Whos Is Not A Sea Blob, cumpre todas as expectativas. Uma das coisas que incomodavam em Euphoria, era o fato de sabermos tão pouco sobre os reais sentimentos de Jules e suas atitudes parecerem desprendidas e indiferentes com relação ao amor que Rue sente por ela. Aqui, vemos como o seu passado afeta o seu julgamento sobre o que significa o amor e as relações interpessoais. A presença de sua mãe no episódio que clama por perdão, conta muito para ajudar nessa construção de sentimentos que não se apega necessariamente ao trauma, mas nos seus medos, na sua intimidade masoquista e na tranquilidade como ela expõe suas questões de forma consciente.

Enquanto o primeiro episódio, Trouble Don´t Last Always, era uma sessão de terapia fora do divã, nesse segundo o cenário  mostra Jules na primeira consulta com uma psicóloga após ter fugido para Nova York e deixado Rue sozinha. Mas antes de chegar nesse ponto, Jules reflete sobre feminilidade e desmonta várias peças sobre a realidade trans que nunca foram mostradas no entretenimento, pelo menos não no mainstream como é Euphoria. Num certo ponto do episódio, Jules compara sua existência com a de um oceano, bonito, livre, forte e intenso e essa honestidade, entrega e naturalidade de Hunter fazem do episódio um exercício de texto muito valioso. É fato que esse personagem é o mais difícil da série e Sam Levinson, o criador do programa, teve um desafio e tanto para que todas as suas camadas fossem exploradas como deviam. O saldo é muito positivo, o episódio soa completo, tanto pelo roteiro quanto pelo visual, mais livre, aberto e com possibilidades que só as cores de Jules permitiriam.

 

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