Apesar de uma premissa interessante e instigadora, com histórias sobre ausências, de personagens que se conectam de alguma forma, o longa Faces de uma Mulher, do francês Arnaud des Pallieres, é um grande nada cinematográfico e vazio de expressão. O filme falha miseravelmente ao tentar passear por histórias que giram no entorno de uma ideia de orfandade, sentida por meninas e mulheres durante vários estágios de suas vidas. Onde deveria haver histórias sobre ausências maternas, estão pequenos contos eróticos sobre como mulheres perdem o rumo sem referências estritamente femininas (a culpa é sempre da mãe) durante pontos importantes de seu desenvolvimento.
Segundo a própria sinopse de Faces de uma Mulher, o longa tenta construir uma única identidade feminina fazendo uso de quatro passagens de histórias individuais. Mas isso fica apenas no porvir do filme, um desenrolar que nunca chega. São personagens que vão desde a perda da inocência na infância, até a meia-idade calcada numa noção de apatia. Através de um fio – bem tênue – narrativo, o longa se apropria da personagem Renée (uma expressiva Adèle Haenel), educadora e na esperança de engravidar, para desenvolver outras três personalidades que deveriam dar conta de explicitar a situação que essa mulher se encontra no presente, explorando o passado e o futuro e tentando se vender como cinema experimental.
Arnaud des Pallieres consegue a façanha de juntar quatro ótimas atrizes contemporâneas – para citar apenas duas: Adele Exarchopoulos (Azul é a cor mais Quente) e Gemma Arterton (Gemma Bovary) – em arcos narrativos sem sentido algum. Não há construção das personagens, apenas exploração delas, dos seus corpos e dos dilemas mais banais sobre a ausência de figuras maternas. Não há complexidade nas histórias dessas mulheres e não se nota nenhum compromisso narrativo além da leviandade de mostrar histórias muito costumeiras, como exemplo de adolescentes rebeldes com sexualidade avançada, prostitutas agindo por transgressão e mulheres com sentimentos de culpa por não conseguirem desenvolver uma gravidez.
Um dos grandes problemas de Faces de uma Mulher é a sexualização de uma ideia pré-concebida de fragilidade de gênero, facilitando assim uma erotização para o público masculino e heterossexual, pouco incomum ao cinema francês dirigido por homens. As personagens tem pouca unidade com o roteiro e passeiam pela tela apenas como adornos de uma narrativa fragmentada. Mesmo que seja possível encarar o filme como um trabalho de desconstrução e experimentação da mesma, na verdade ele só se mostra como 110 minutos de clichês e representações levianas, sem valor estético algum.
Talvez Arnaud des Pallieres tenha se sentido em falta por dirigir apenas personagens masculinos, sempre com grandes dilemas entre culpa e honra, mas essa tentativa com a roteirista Christelle Berthevas falha tanto como no trabalho anterior. Se no entediante Michael Kohlhaas o diretor e a roteirista mostravam pouco domínio de narrativa e montagem, aqui eles tentaram unir uma ideia – já bem batida para o cinema contemporâneo – de multiplots com uma demanda de representatividade de mulheres no cinema. Mas o que conseguem fazer é causar uma grande confusão narrativa e colocar quatro boas atrizes fazendo, basicamente, nada diante das câmeras, além de promoverem olhares vitimizadores e terminando em situações que cabem às mulheres que desrespeitam as regras: serem punidas de alguma forma.