Em Ficção Americana, o autor Thellonious Ellison (Jeffrey Wright), mais conhecido como Monk, está frustrado com a insistência do entretenimento norteamericano nas mesmas histórias sobre negros. Pais ausentes, vícios em drogas, tiroteios com a polícia e assim vai.
Thelonious “Monk” então fica mais irritado ainda depois que um de seus trabalhos não foi aceito pelas editoras e sua carreira parece estar estagnada pois sua obra não é considerada “negra o suficiente”. Enquanto isso o livro We’s Lives in Da Ghetto, de Sinatra Golden (Issa Rae), chega a lista de mais vendidos, deixando o autor em crise ainda mais frustrado. Ao perceber o tipo de conteúdo que o público está interessado, Thelonious decide escrever um romance satírico sob pseudônimo na intenção de expor as hipocrisias do mundo editorial…
O filme é uma sátira social ágil e eficaz, utilizando humor ácido e irreverente para criticar a indústria editorial, o politicamente correto, o consumismo, o racismo e seus estereótipos.
O roteiro polêmico é com tom provocador, baseado no romance “Erasure” de Percival Everett, é muito inteligente e afiado com muita perspicácia e crítica bem-humorada da sociedade atual, sendo crítica direta a temas sensíveis como raça e política dividiu opiniões, mostrando o racismo de forma pura e satírica, pois Monk muitas vezes zoa de si mesmo. Alguns até podem considerar a abordagem superficial e que chega a ser exploratória.
A performance do protagonista, sem dúvidas, é um dos pontos fortes do filme pela sua versatilidade e capacidade de transmitir a complexidade do personagem, beirando muitas vezes ao drama genuíno.
Um ponto positivo também é a excelente harmonia entre os atores. O sempre carismático Sterling K. Brown, por exemplo, se apoia nos seus trejeitos e gestos (em particular seu icônico olhar arregalado) para dar vida ao papel mais intenso da trama, sempre exalando humor, raiva, medo e tristeza. Enquanto ele e Ellis Ross, um poço cômico de personalidade, vão cada vez mais para cima, Wright é sempre mais contido. A dinâmica não só diz muito sobre como os três irmãos se relacionam, como também adiciona musicalidade ao texto engraçado e veloz de Jefferson, excelente nos diálogos.
Ainda é divertido ver Monk frustrado quando o livro, batizado sem cerimônia alguma de Fuck, se torna um best-seller, é adaptado para as telonas e ganha prêmios.
Na conclusão, talvez o arco narrativo poderia ser fechado de forma mais caprichada. Entretanto, Ficção Americana é um filme que gera discussões e desperta reações diversas. Se você aprecia sátiras sociais com crítica ácida e humor irreverente, vale a pena conferir. No entanto, esteja preparado para um filme que divide opiniões.
