Friends foi um daqueles fenômenos que simplesmente acontecem nas inúmeras tentativas de alavancar uma série de tv. Acontece que Friends conseguiu reunir seis amigos diferentes em situações íntimas que nunca haviam sido exploradas dessa forma antes. Esse foi o grande trunfo da série. Claro que, nada disso seria possível sem o seu elenco de protagonistas Courtney Cox, Jennifer Aniston, Lisa Kudrow, Matthew Perry, Matt LeBlanc e David Schwimmer. A série continua, até os dias de hoje, sendo a mais vendida e reprisada do mundo. Isso beneficia sua equipe que, só no ano passado, contabilizou US$ 1 bilhão com as vendas de syndication, que é o direito da reprise, que só existe nos Estados Unidos. 20% desse valor foi para os atores da série que receberam, cada um, US$ 20 milhões (R$ 108,3 milhões). Os US$ 80 milhões restantes foram divididos entre Marta Kauffman e David Crane, criadores do seriado.
Aquele calorzinho no coração ao ouvir a música tema no início dos episódios que dizia “I´ll be there for you” (eu estarei sempre com você), teve esse efeito colocado à prova quando a série foi encerrada em 2004, deixando uma legião de fãs órfãos, mas abocanhando uma das maiores audiências da tv americana. Para quem é fã de Friends, entende que aquela história já foi contada e que seria difícil revisitar Monica, Rachel, Phoebe, Joey, Chandler e Ross no momento atual de suas vidas, porque isso implicaria em desfazer os finais felizes dos personagens, como a própria Lisa Kudrow disse quando perguntada sobre a especulação de um possível filme que desse continuidade à história. E faz todo sentido, afinal Friends é sobre como esses amigos amadurecem juntos e se encontram na vida.
A intimidade e o sentimento de se sentir parte desse grupo acabou sendo dividida com o mundo todo, que a HBO traduziu nesse evento global e grandioso, que pouco tem a ver com os seis amigos reunidos no Central Perk para falar de suas desilusões amorosas, problemas no trabalho ou celebrar qualquer conquista. Hoje, Friends não caberia mais nesse espaço pequeno de Nova York e talvez por isso o especial tenho sido tão controverso. A emoção, porém, se faz inevitável, principalmente quando Courtney Cox e Jennifer Aniston visitam o cenário do apartamento de Monica, todo reconstruído aos mínimos detalhes para a nova produção, e não conseguem conter as lágrimas. Assim que todos se unem no set, dá pra sentir que a amizade entre eles ia além dos roteiros e se estendeu para a vida. Trazendo de volta o calorzinho da música tema.
Friends nunca foi muito boa em lidar ou admitir seus problemas internos. Talvez quem mais tenha sido aberta com o público foi Courtney Cox, que pediu aos roteiristas para incluir sua dificuldade em ser mãe à personagem. Mas aqui em 2021, quem mais parece estar desconfortável com esse retorno é Matthew Perry, que segundo rumores lutou contra vícios durante as gravações pela pressão que sentia. Mas, como toda sitcom, todo momento vulnerável sugere uma piada e risadas ao fundo logo em seguida e assim o episódio continua sem dar espaço a assuntos polêmicos demais e prefere se manter alheio a qualquer discussão de posicionamento.
Mesmo com as distrações, que adicionam celebridades que vão desde Cindy Crawford até Justin Bieber, existem momentos muito ricos como o jogo de adivinhação que o elenco reencena, a leitura do roteiro de cenas marcantes e curiosidades que vieram à tona sem nunca terem sido reveladas antes sobre a série e sobre os atores. Foi um exercício nostálgico, divertido e engraçado que provavelmente não se repetirá e que serviu para avisar ao mundo que eles reconhecem sua popularidade e agradecem por serem tão queridos por várias gerações que assistem a série.