Antes do canal norte-americano CW ser conhecido por suas produções adolescentes e agora a maior casa dos super-heróis da DC Comics, houve um tempo em que uma série mal traduzida para o português como Tal Mãe Tal Filha, lidava com a relação de 3 gerações de mulheres de uma maneira como nenhuma outra história foi capaz de fazer, e tocante ao ponto de suas peculiaridades e citações serem lembradas até hoje.
Gilmore Girls retorna nessa nova produção original da Netflix em parceria com a Warner em 4 episódios para revisitar Stars Hollow nas 4 estações do ano, com seus moradores e seu senso de comunidade incomum na supervisão do comitê de Taylor (Michael Winters). Criada por Amy Sherman-Palladino, a volta de Lorelai (Lauren Graham) e Rory (Alexis Bledel) não poderia ser mais satisfatória para uma narrativa atemporal muito bem construída em sua essência. Quase 10 anos após o término da série, os primeiros minutos nos levam de volta com as falas mais marcantes da série e já começa provocando o sentimento nostálgico do encontro de Lorelai e Rory e seus devaneios e diálogos longos, rápidos e confusos sobre assuntos superficiais que só elas podem concordar.
O trio fica completo com a primeira aparição de Emily (Kelly Bishop), a avó de Rory que sempre foi um pilar importante na série e o personagem condutor de todos os conflitos. Dessa vez elas lidam com a perda de Richard, o patriarca Gilmore interpretado por Edward Herrmann, que também faleceu na vida real. Na trama emotiva por si só, elas precisam trabalhar para se aceitarem e consertarem os problemas de relacionamentos que ainda persistem desde o começo da série lá em 2000.
O interessante é a maneira como todas as discussões são identificáveis e o texto sabe como atingir o ponto de ruptura de cada personagem, muito bem construídos pela criadora. Lorelai passa um por um momento do meio para o final da temporada de inúmeros questionamentos sobre seus erros e seu comportamento agressivo e egoísta que afeta sua mãe, seu parceiro Luke (Scott Patterson) e também Rory, que tenta encontrar um rumo profissional para sua vida mas sua jornada tem um ponto solto do nó. Enquanto a série estava no ar, sempre torcíamos para que a menina doce e prodígio tivesse uma carreira brilhante e uma mudança de cenário para uma metrópole, isso funcionou para as 7 temporadas corridas, mas agora com o revival, tudo soa muito forçado e ela virou uma espécie de Carrie Bradshaw de Sex & The City, sempre pra lá e pra cá, saindo com vários caras ao mesmo tempo e isso apaga um pouco as expectativas para a personagem, que mesmo sendo humana poderia carregar mais em outras dificuldades que ficaram de lado, como as síndromes dos 30 e poucos anos da nossa geração e coisas do tipo.
O retorno da série também conta com rostos familiares como Paris (Liza Weil), Jesse (Milo Ventimiglia), Logan (Matt Czuchry), Dean (Jared Padalecki) e até Sookie (Melissa McCarthy). Mas a história corre sozinha e mostra que ainda há muito a ser contato sobre essa história entre mãe e filha que evoluíram juntas numa relação única de amizade e companheirismo que tem seus altos e baixos mas se sustentam com muito apoio e referências incansáveis de músicas e filmes que conduzem a vida das duas num universo particular e ingênuo. Um verdadeiro presente para os fãs e uma retomada de tempo que valeu a pena para Gilmore Girls, que se manteve relevante e segura para voltar com a mesma qualidade. Que venham as próximas estações do ano ao som do violão e cantos soltos que fizeram a marca do seriado.