O choque de gerações e as piadas fazem de Hacks, nova série da HBO Max que estreou no Brasil no último dia 29 de junho, uma das melhores produções cômicas da tv na atualidade. A série acompanha Ava (Hannah Einbinder) uma roteirista de comédia de 25 anos, que além de estar com o emocional abalado por um recente término de relacionamento, também está em busca de um novo emprego, coisa que ela também não consegue manter. É então que seu agente a indica para trabalhar com Deborah Vance (Jean Smart), uma diva do stand-up em Las Vegas, que também passa por momentos difíceis na carreira e na vida pessoal.
Justamente essa diferença de idade entre as duas é o que conduz boa parte das problemáticas da trama, como os estranhamentos e principalmente as brigas. Primeiro porque Ava ataca a sua chefe com insultos preditivos e Deborah, que não está acostumada a dar o braço a torcer, não se apega tanto à novata. A dinâmica entre elas é estabelecida para contar uma velha história sobre o que cada uma tem a aprender com a outra e essas lições até são pontuadas de forma previsível no roteiro, mas isso não desmerece a série de forma nenhuma, que concentra sua diversão e energia no carisma e conexão que as protagonistas mostram em todos os episódios. Jean Smart é quem mais brilha em Hacks, ao melhor estilo Joan Rivers. Não é à toa que sua personagem seja essa celebridade glamurosa e consciente de seu talento, que já virou um business lucrativo no concorrido mercado do entretenimento de Las Vegas. Todo esse poder e influência feminina é também grande parte de Hacks, que fala sobre a influência inesperada que a musa desperta em Ava ao realizar como o tempo passa mais rápido para as mulheres e a instiga também a revisitar as oportunidades perdidas do passado de Deborah de fazer com que a história mude de narrativa numa era #metoo.
O único ponto negativo da série é a evolução de Ava e o fato do roteiro tentar mostrar que ela precisa perder para se tornar alguém melhor e fazer dela a mocinha do programa, porém essa evolução nunca vem e seu comportamento errático fica girando em loop entre besteiras que ela faz sempre que está bêbada, outra saída fácil para movimentar a trama que poderia muito bem seguir sem essas escalações e focar mais em conhecer todo o passado de Deborah.
Mesmo com as piadas sendo o centro da série e o próprio título (que significa basicamente, ultrapassadas) que já tira um sarro de suas personagens logo de cara, há muito espaço para drama também, um viés inesperado para a atriz de stand-up da vida real Hannah, mas território muito conhecido na trajetória de Jean Smart, principalmente na HBO, onde ela marca presença nas séries Mare of Easttown e Watchmen. Uma cena em especial no último episódio, expõe a vulnerabilidade de Deborah como sua maior arma contra o mundo ao dizer que todos nascemos sozinhos. Essa gradação também acontece de forma brilhante e conta com muito apoio do elenco coadjuvante, que segura as cenas cômicas enquanto a trama principal se desenrola. Por fim, a maratona de Hacks é uma das mais divertidas e viciantes entre todos os catálogos dos streamings do momento e que remete a uma mistura equilibrada entre Fleabag e Umbreakable Kimmy Schmidt.