Para começar a falar da produção, o mais adequado seria fazer um breve estudo do personagem principal. Sérgio Neiva Cavalcanti sempre foi Sérgio Mallandro. Sua estreia no mundo aconteceu em 12 de outubro de 1968, no Dia das Crianças, data que talvez tenha influenciado na sua eterna síndrome de Peter Pan. Nas décadas seguintes, mesmo incomodando o público adulto, Sergio ganhou massivamente o público infantil, que desesperadamente queria estar com ele diariamente.
O filme, Mallandro: O Errado que Deu Certo, possui um enredo mal construído. A trama não se desenvolve de maneira coesa, com elementos e situações aparecendo do nada e desaparecendo da mesma forma, como se tivessem várias ideias para diferentes clímax e tentassem colocar todas no mesmo filme.
Sérgio Mallandro é um personagem que transita entre o real e o fictício, o que pode ser bem confuso quando se tenta roteirizá-lo. O filme mistura possíveis histórias reais de Mallandro com situações mirabolantes e sem coesão no roteiro. Embora a produção tenha sido pensada para ser engraçada, a falta de graça chega a ser desconcertante. A lógica é praticamente inexistente.
Talvez se o filme tivesse sido feito há uns 10 anos, a história teria sido mais justificável. O protagonista, Sergio Mallandro, atua de forma tranquila no papel, afinal, está interpretando a si mesmo, o personagem caricato que sempre foi. Sérgio Neiva Cavalcanti quase não cabe nesse contexto, sendo difícil de definir com sua leve doçura e eterna síndrome de Peter Pan. A situação de alguém se recusar a crescer para evitar a realidade e a responsabilidade dos próprios atos é inconveniente. No filme, Mallandro é rodeado o tempo todo por seus filhos, Mila (Mariana Alexandre) e Lucca (Guilherme Garcia).
Escrever sobre algo que não agrada e ainda encontrar elementos elogiáveis numa produção como Mallandro: O Errado que Deu Certo é quase impossível. Talvez seja necessário tentar entender a produção e dizer que possivelmente ela faria muito mais sentido no início dos anos 2000, pós-boom dos icônicos anos 1980 e 1990 da TV, onde formatos esdrúxulos eram exibidos diariamente na TV aberta. Mas não é o caso, afinal, esse período passou e até a nostalgia por alguns desses personagens parece ter diminuído.
Infelizmente, a produção em questão não traz nada de novo. Intitulada de comédia por necessidade de definição indicativa, é difícil de rir com o filme, roteirizado pelo próprio Sérgio Mallandro e dirigido por Marco Antonio de Carvalho. A produção poderia errar no enredo, mas poderia ter trazido um roteiro mais lógico e com um ponto central para trabalhar.
Um ponto alto para quem não aprecia o personagem é o fato de não poder usar seus bordões, conforme a própria sinopse relata, sem spoilers. No entanto, o filme prova que existem milhares de outras falas de Mallandro que são massivas e cansativas.
Em resumo, Mallandro: O Errado que Deu Certo falha em oferecer uma comédia coesa e divertida, sendo mais um reflexo da figura controversa de Sérgio Mallandro do que uma produção cinematográfica bem-sucedida.