Maníaco do Parque

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"Maníaco do Parque": Entre o crime real e a luta contra o machismo

Mauricio Eça (A Menina que Matou os Pais) é o diretor de Maníaco do Parque e apresenta um bom trabalho de ficção.

A vida inteira sempre assisti filmes ou séries sobre assassinos em série e todos sempre foram em outros países, tudo bem longe daqui e todos bem antes de eu ter nascido, ou seja, mesmo sendo baseados em fatos reais tudo sempre foi apenas história. A grande diferença em Maníaco do Parque é que eu já havia nascido e em 1998 morava em São Paulo, que apesar de ser uma cidade violenta (crimes e assassinatos diários) nunca (na minha existência) havia passado por algo assim, um assassino em série em São Paulo. Lembro bem do medo que todos estavam na época, de serem a próxima vítima ou de que a vítima fosse alguém da sua família, alguém que você conhecia ou que houvesse uma próxima vítima, quando isso ia parar e se ia parar um dia? Por esse motivo assistir ao filme foi uma experiência diferente.

Quando comecei a assistir não sabia ao certo o que esperar, mas não era isso que estava esperando. Houve mais destaque para a jornalista que não existiu no caso real do que para o assassino. Demorei um pouco para me acostumar com essa ideia durante o filme e ao falar com minha esposa sobre isso foi mais fácil entender as coisas. Ela me perguntou: “O que você esperava do filme? Apenas mostrar as mortes, coisas só sobre o assassino? Se fazem isso vão enaltecê-lo, as pessoas (algumas) acabam admirando, gostando, se apaixonando por esse tipo de gente. Por que não abordar essa história, mas também colocar outros temas, usar de alguma forma mais útil?”

E foi isso que aconteceu aqui, a personagem fictícia Elena, interpretada muito bem pela Giovanna Grigio retrata todo o machismo da década de 1990 (e infelizmente não mudou muito até hoje, a luta é diária né) e o descaso com as mulheres vítimas dos mais diversos crimes. Toda essa parte mesmo não fazendo parte da história do Maníaco do Parque ficou muito bem retratada no filme, é revoltante.

Por mais que você seja contra o machismo, esteja do lado das mulheres e faça o que puder para ajuda-las a combater, você NUNCA será uma mulher, saberá o que ela sente, passa e teme. No filme Elena apresenta ao diretor uma matéria e ele diz que está boa e fala para ela “você não fez a principal pergunta”, e eu não sabia qual era essa pergunta, ao comentar isso com minha esposa, mesmo sem ela ter assistido ao filme ela me falou “a pergunta era: O que ela fez para merecer isso? (ser morta)”, e nesse momento todo o impacto dessa parte do filme bateu forte.

“Ah nossa, mas o filme é Maníaco do Parque e até agora você não falou nada sobre ele”, calma gente, o filme ficou dividido em duas partes, uma sobre o Maníaco e seus crimes, achei que tudo foi mostrado de forma bem respeitosa, sem exageros ou aquela necessidade vulgar de chocar só por chocar, e a parte fictícia e que achei super válida, retratando o descaso com as mulheres vítimas dos mais diversos tipos de abusos.

Sobre o Maníaco preciso destacar a brilhante atuação de Silvero Pereira, o cara foi perfeito e espero que não apanhe na rua, todos os principais elementos estão ali. A forma como ele abordava as vítimas, onde ele as levava, os locais que ele frequentava, essa parte foi tensa porque morando em São Paulo passei várias vezes pelos locais que ele passava e sempre ficava aquela sensação “será que em um desses dias eu cruzei com ele na rua?”, quantas pessoas podem ter passado do lado dele, receberam entregas e não faziam ideia, esse tipo de coisa a gente não pensa quando assiste a filmes estrangeiros, mas esse foi aqui, aconteceu nem na nossa cara.

Fazia tempo que não via a Mel Lisboa e rapaz, ela sempre foi bonita, mas como essa mulher está linda. Ela apareceu pouco no filme, mas foi em momentos cruciais ajudando a irmã Elena a entender um pouco da mente do criminoso e como tentar ajudar a capturá-lo.

A Prime Vídeo também tem uma série documental chamada Investigação Criminal e um dos episódios é sobre o Maníaco do Parque, com relatos reais, o foco é o crime real sem a ficção que o filme apresentou, para quem não conhece a história seria interessante assistir.

Eu gostei do filme, mas quem espera um filme focado apenas no assassino vai acabar se decepcionando e provavelmente não entendendo a mensagem do filme.

A soma da pena de Francisco pelos crimes cometidos chega a 285 anos de prisão, porém a legislação brasileira só permite 30 anos de prisão, o que significa que existe a chance de ele sair da prisão em agosto de 2028.

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