Infelizmente, dessa vez o cult parece ter ido longe demais. Music, o premiado longa da diretora e roteirista alemã Angela Schanelec, vencedor do Urso de Prata de Melhor Roteiro no Festival de Berlim 2023, é realmente um filme perfeito para os cinéfilos raízes e para quem mais topar um grande desafio do cinema moderno.
Jon é o personagem que vamos acompanhar do primeiro dia de vida até sua vida adulta, do momento em que é resgatado, ainda recém nascido, passando pela tragédia que define como ele vive por alguns anos, até o momento em que, mesmo depois de mais algumas intempéries ele se vê em um momento de mais calmaria.
E “acompanhar”, na verdade, talvez não seja o melhor termo. Somos convidados a sermos espectadores pacientes e extremamente contemplativos desta narrativa compassada, que muitas vezes nos coloca às voltas com nossos próprios pensamentos por falta de trilha sonora (uma ironia considerando o nome do filme? Talvez).
A história, que realmente, é extremamente criativa em sua forma de ser contada e narrada, exige bastante atenção aos mínimos detalhes, e se por um lado isso eleva a qualidade da obra, acaba, por outro lado, deixando o filme muito longe de nós, o que ao invés de gerar uma sensação de exclusividade, de joia rara cinematográfica, acaba trazendo exclusão.
Fica aqui então em vez de uma dica, um desafio: contemple Music e, assim como Schanelec, interprete você também essa leitura do mito de Édipo.