Na Floresta

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“Na Floresta” propõe uma passeio pela floresta do inconsciente infantil, repleto de medos e fantasias

Na primeira cena de Na Floresta, o pequeno Tom, numa conversa interessante com a terapeuta, diz que muitas vezes tem medo do próprio pai. Nesse momento é apresentado o ritmo em que o filme irá funcionar: através do inconsciente de uma criança. As respostas dadas pelo garoto são reais, palpáveis ao espectador. Porém, o filme realizado por Gilles Marchand transita entre a crueza da realidade e a fantasia, andando lado a lado com medos corriqueiros de um pai recém-separado e os dois filhos pequenos.

Como boa parte das crianças em que os pais são divorciados, os garotos franceses Tom (Timothé Vom Dorp) e Ben (Théo Van de Voorde) passam um tempo com o pai (Jérémie Elkaïm) que, atualmente, vive na Suécia. Nenhum dos meninos parece muito animado para viajar, além do fato que conhecerão outro país. O encontro com o pai é estranho desde o princípio, ele se mostra distante porém instigado a tornar os dias dos garotos com ele minimamente interessantes. Toda a estranheza do comportamento do pai é selada quando ele leva os meninos para conhecer o seu trabalho, uma atividade confidencial que não fica muito clara. É com essa tensão que o filho menor passa a ver uma criatura que surge das sombras, a qual ele figurativamente chama de Diabo.

Em um ímpeto o pai decide que os próximos dias com os garotos serão dentro de uma floresta no norte do país. É difícil lidar com a situação, já que percebemos logo de início que o pai está perturbado, querendo que os filhos fiquem com ele, numa espécie de disputa com a ex-mulher. Conforme a obsessão do pai vai crescendo, as crianças vão ficando mais nervosas, impulsionando seus medos. É nesse ponto que Na Floresta começa a se desenvolver, criando tensões e deixando que os sentimentos mais obscuros tomem conta das cores, da trilha sonora e das cenas. O roteiro vai andando para que fiquemos no limbo entre a paranóia da realidade e o inconsciente de uma criança em que os medos não tem a forma nítida dos de um adulto.

O roteiro de Gilles Marchand e Dominik Moll se esforça em trabalhar dentro desse limbo entre fantasia e realidade mas, infelizmente, segue com um sentimento de pressa, fica o tempo todo em um quase clímax. Apesar de dar conta de desenvolver uma tensão firme quando o trio atravessa a floresta e se acomoda numa choupana, dando vazão para as tensões familiares e sobrenaturais, o longa fica hermético e parece travar. Destaca-se o trabalho feito na preparação de Timothé Vom Dorp que visivelmente consegue nos inserir em seu universo infantil, com medos tão cruéis e ao mesmo tempo tão comuns. A trilha original de Philippe Schoeller também colabora para que as cenas na floresta nórdica causem tensão e beleza ao mesmo tempo.

Apesar de uma premissa interessante Na Floresta acaba realmente se embrenhando pelo inconsciente dos personagens de forma que propõe poucas linhas de reflexão e deixa o espectador no vácuo. É possível fazer leituras psicanalíticas e pensar alegorias para a presença do pai e da figura sombria que persegue o menor, porém são tentativas de fazer uso de chaves e não peças dadas pelo roteiro.

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