Narcos – 2ª Temporada

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Narcos continua sendo relevante mesmo com uma narrativa sem personalidade.

Para os não amantes de produções latinas, a série Narcos pode ser uma tortura por muitos motivos. Talvez esteja no inconsciente dos sul-americanos, tratar as histórias numa linha reta sem nuances e se iludir criando muita expectativa em coisas que simplesmente não funcionam. A primeira temporada da série original da Netflix, no comando de José Padilha (Tropa de Elite, RoboCop), revisitou um território muito marcado do cinema do ponto de vista do brasileiro principalmente, mas também de toda aparição de favelas em filmes gringos. O excesso e a falta de substância ao mesmo tempo, desmistificam a série. O programa tentou forçar seu protagonista, Pablo Escobar (Wagner Moura), em ser o anti-herói carismático, sendo que os fatos reais dessa história não deixaram a tela mentir, já que Escobar foi uma figura de puro mal na Colômbia, mas mesmo com os riscos do primeiro ano, a segunda temporada se esforça em encerrar esse o arco da busca pelo mafioso.


O excesso em Narcos fica a cargo da criação de complexidade desnecessária ao criar uma ficção baseada em realidade que se motiva em fatores políticos, sociais e econômicos mas sem ter a sorte de se encaixar muitas vezes. As subtramas, muito usadas para sustentar o caminho do desfecho, parecem estar lá para contar o tempo do episódio, já outras que acompanham o narrador Steve Murphy (Boyd Holbrook) apresentam mais entusiasmo do que as aparições de Pablo.


É inegável o talento de Wagner e seu comprometimento em cena na produção, mas a sua performance não alcança o modo sarcástico e debochado de sua inspiração. Algumas cenas são interrompidas com imagens reais de noticiários ou outras imagens do acontecido e a diferença na abordagem do personagem é muito gritante, talvez essa seja a dificuldade no trabalho do protagonista, que é de fato um nome forte, porém suas cenas não são bem estimadas. Coisa que nem American Crime Story: The People v. O.J conseguiu, mas sua abordagem foi justamente nas pessoas envolvidas no processo do julgamento, alavancando os coadjuvantes para liderar a série. Esse tato ao se contar uma história baseada em acontecimentos reais sobre uma personalidade ambígua, odiada por uns e amada por outros, poderia ter feito toda a diferença em Narcos. O que faz a série seguir um bom fluxo na sua mistura de realidade e ficção, é a produção em si, que em termos técnicos se mantém em nível cinematográfico, com riqueza em detalhes e caracterização sem igual. As ruas e seus personagens da cidade também são boas interferências no decorrer da trama, que adiciona alívios e respiros para a tensão que toma conta de toda a série.


A assinatura de Padilha no começo da série determinou algo que se sustentou no sufoco até o encerramento dessa segunda temporada, mas alguns aspectos que fogem do formato de maratona e tratam dos episódios isoladamente são os que acrescentam mais pontos a narrativa. A ação é outro ponto forte que enche a tela em cenas perigosas e inesperadas. Entre altos e baixos a segunda temporada se cansa de motivar empatia e colorir atuações de liderança de cena, mas entrega 10 episódios de uma história que foi bem construída mas pouco bem aproveitada.

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