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O Aprendiz

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“O Aprendiz”: A forja de Donald Trump

Em O Aprendiz, o diretor Ali Abbasi se aprofunda nos anos iniciais de Donald Trump (Sebastian Stan), mostrando como ele foi moldado pelo advogado Roy Cohn (Jeremy Strong) para se tornar uma figura central no cenário empresarial e político dos EUA. O filme, que se passa entre as décadas de 1970 e 1980, revela as manipulações que ajudaram a erguer o império imobiliário dos Trump, enquanto o jovem Donald aprende as artimanhas para fugir de processos e governar um império à base de mentiras. Com a direção precisa de Abbasi e o roteiro afiado de Gabriel Sherman, o filme nos leva a entender a dinâmica entre o mentor e o aprendiz, traçando a origem de uma figura que mais tarde se tornaria o 45º presidente dos EUA.

O que torna O Aprendiz fascinante é o modo como retrata a relação entre Trump e Cohn, colocando o jovem empresário como o pupilo ansioso que absorve os ensinamentos amorais de seu mentor. Cohn, vivido com intensidade por Jeremy Strong, é mostrado como um mestre da manipulação, ensinando Trump a operar sem escrúpulos, sem remorsos e com foco absoluto no poder. Essa dinâmica de mentor e protegido lembra quase um pacto com o demônio, em que Trump, a princípio, parece hesitar diante da ética questionável de Cohn, mas logo abraça completamente os valores de seu mestre.

O filme não se propõe a reinventar a roda ao contar a história de Trump. Muitas das informações apresentadas são baseadas em fatos amplamente conhecidos, o que pode levar alguns espectadores a questionarem a necessidade de reviver essas histórias. Contudo, Abbasi constroi um retrato psicológico profundo, focando menos nos eventos e mais no processo de transformação de Trump, de um empresário jovem e ambicioso para o homem de negócios sem alma que dominaria o cenário político anos depois.

É impossível assistir a O Aprendiz sem refletir sobre o impacto de figuras como Trump na formação da mentalidade americana contemporânea. O filme nos lembra da corrupção e da ganância que nos EUA emergiram nas notícias após o final dos anos Nixon, atravessando a presidência de Reagan e culminando na ascensão do culto ao “vencedor” – uma visão que Cohn passa a Trump com perfeição na duração do longa. O modus operandi de que o mundo é composto de “matadores e perdedores” permeia toda a narrativa, revelando as origens do cinismo brutal que viria a definir a carreira pública de Trump.

A interpretação de Sebastian Stan como Donald Trump é intrigante. Embora o personagem seja inevitavelmente familiar, Stan consegue ir além da mera imitação, oferecendo uma visão mais profunda e multifacetada do que motiva o empresário. A transformação de Trump, de alguém com pequenos resquícios de consciência para um homem guiado apenas por seu ego e ambição, é o núcleo emocional do filme. Stan captura o endurecimento gradual de Trump, tornando-o mais uma caricatura de poder do que um ser humano real, algo que, ironicamente, reflete o próprio comportamento público de Trump nos anos que se seguiram.

A presença de Maria Bakalova como Ivana, primeira esposa de Trump, também merece destaque. Ela traz uma dose de sensibilidade ao filme, mostrando uma mulher que, embora ciente das falhas de seu marido, escolhe ignorá-las. O casamento de Trump e Ivana é um microcosmo de sua abordagem às relações pessoais: descartável, utilitarista e, em última análise, frio. Esses momentos revelam como Trump lida com as mulheres em sua vida e contribuem para uma caracterização ainda mais completa de sua persona desprezível.

Jeremy Strong, como Roy Cohn, é a força motriz do filme. Seu retrato de Cohn é sombrio, mas com momentos de ironia e patetismo, especialmente quando vemos o declínio do personagem, que, apesar de suas táticas implacáveis, não consegue escapar de seu próprio destino. Cohn, que foi essencial na construção de Trump, acaba sendo deixado de lado à medida que o aprendiz supera o mestre. A relação entre os dois é o coração do filme, e a dinâmica mentor-aprendiz é executada de forma brilhante.

Visualmente, O Aprendiz transporta o público para a Nova Iorque decadente dos anos 1970 e 1980 com uma autenticidade impressionante. Desde os arranha-céus até os clubes noturnos, o design de produção captura perfeitamente o excesso e a ostentação do estilo de vida dos Trump. A fotografia granulada do longa evoca a era, e as escolhas visuais ajudam a situar a narrativa no tempo, além de reforçar a estética “kitsch” que reflete o gosto de Trump por opulência.

O Aprendiz é mais do que uma biografia. Ele mostra como um momento específico na história americana moldou a política e os negócios, preparando o terreno para a era moderna. Ao mostrar a aliança destrutiva entre Trump e Cohn, o filme aponta como essa relação contribuiu para a toxicidade política e social que agora define grande parte do discurso público. Abbasi faz um trabalho excepcional ao explorar as ramificações dessa aliança, sem nunca perder de vista o impacto de seus protagonistas reais nos dias de hoje.

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