Desde seus primeiros minutos, O Brutalista se impõe como um épico ambicioso. A estética cuidadosa e a recriação minuciosa da América do século XX evocam grandes narrativas sobre imigração e identidade. No entanto, o filme não segue o caminho tradicional do sonho americano, mergulhando em temas sombrios e desconfortáveis. O diretor Brady Corbet constrói um drama denso e visualmente impressionante, mas sua abordagem teatral e sua recusa em oferecer respostas claras podem afastar parte do público.
Dividido em duas partes e um epílogo, o filme acompanha László Toth (Adrien Brody), um arquiteto húngaro sobrevivente do Holocausto, que chega aos Estados Unidos buscando reconstruir sua vida e sua carreira. A trama se passa ao longo de três décadas, marcando sua ascensão profissional e os desafios que enfrenta como imigrante judeu. Seu encontro com Harrison Van Buren (Guy Pearce), um industrial influente, muda seu destino ao oferecer a chance de projetar um monumento modernista que definiria a paisagem americana. Contudo, a trajetória de László é repleta de obstáculos, e sua jornada não é apenas sobre a realização de um grande projeto, mas sobre os fantasmas que carrega.
O título do filme não se refere apenas ao estilo arquitetônico de László, mas também ao próprio protagonista. Diferente de muitas narrativas de imigrantes, O Brutalista não busca tornar seu personagem central simpático. Ele é introspectivo, arrogante e, em muitos momentos, difícil de gostar. Brody entrega uma de suas atuações mais intensas desde O Pianista, explorando as camadas de um homem atormentado que, apesar do talento inegável, se torna prisioneiro de sua própria rigidez emocional.
Se László é o centro absoluto da trama, os demais personagens funcionam quase como peças complementares. Erzsébet (Felicity Jones) e Zsofia (Raffey Cassidy) aparecem apenas na metade do filme, sendo mais reflexos das escolhas do protagonista do que figuras com desenvolvimento próprio. Já Harrison, interpretado por Guy Pearce, surge como um homem poderoso e enigmático, mas sua caracterização exagerada e o tom teatral de algumas cenas podem prejudicar a imersão. O filme, por vezes, flerta com o artificial, algo que Corbet parece fazer intencionalmente, mas que nem sempre funciona.
Outro elemento que torna O Brutalista desafiador é sua estrutura narrativa. O filme apresenta eventos marcantes sem oferecer conclusões definitivas, e mesmo o epílogo, ambientado em 1980, pouco esclarece sobre o destino de seus personagens. Esse distanciamento pode ser frustrante para quem busca uma história fechada, mas reflete o próprio protagonista: um homem cujas cicatrizes do passado nunca encontram plena resolução.
Além da força dramática, o longa impressiona visualmente. A fotografia e a direção de arte capturam a transição da América pós-guerra, contrastando espaços monumentais e frios com momentos mais íntimos e humanos. A brutalidade do estilo arquitetônico de László ecoa em sua própria vida, e essa conexão entre forma e narrativa é um dos aspectos mais bem-sucedidos do filme.
Com quase quatro horas de duração e um ritmo deliberadamente contemplativo, O Brutalista exige paciência e atenção. Seu impacto dependerá da disposição do espectador para embarcar em uma jornada que não oferece conforto nem respostas fáceis. É um filme que desafia e provoca, tanto pela complexidade de seu protagonista quanto pela forma como lida com memória, identidade e ambição.