O Estranho, dirigido por Flora Dias e Juruna Mallon, oferece uma narrativa visualmente deslumbrante e introspectiva, explorando a vida e o trabalho no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Com uma abordagem documental, o filme investiga as camadas históricas e as realidades cotidianas dos trabalhadores do aeroporto, destacando personagens como Alê, interpretada por Larissa Siqueira, cuja trajetória pessoal se entrelaça com o ambiente do aeroporto.
A fotografia é um dos pontos fortes do filme, não à toa premiada anteriormente no Olhar de Cinema em Curitiba. As imagens capturam a vastidão e a movimentação constante do aeroporto, contrastando com momentos mais íntimos dos trabalhadores. Esse trabalho visual bem desenvolvido proporciona uma sensação completa de imersão no entorno do aeroporto de Guarulhos. Também premiado no mesmo festival está o som, que realmente é um caso à parte, fazendo bom uso do material no meio ambiente e conseguindo apresentar bem a identidade de efeitos sonoros naturais e até mesmo nos diálogos que a produção quis mostrar.
Há um foco claro na exploração de temas histórico-sociais, como a ocupação do território indígena e as transformações urbanas, destacando como esses elementos impactam a vida dos personagens. A narrativa convida à reflexão sobre a conexão entre o progresso e a preservação da memória cultural, tanto individual quanto coletiva.
A história de Alê serve como um fio condutor que liga diferentes narrativas no ambiente do aeroporto. O filme é tanto uma jornada pessoal quanto um estudo coletivo de um espaço de trabalho complexo e diverso. Além de Alê, outros personagens que habitam o cotidiano do aeroporto são apresentados, cada um com suas próprias histórias e conexões ao lugar, proporcionando uma visão diversificada das experiências e desafios enfrentados pelos trabalhadores.
Além dos prêmios no Olhar de Cinema 2023, a produção também foi reconhecida no Queer Lisboa, no Festival Internacional de Direitos Humanos de Nuremberg e no Festival de Havana. O Estranho busca ser um filme emocional e impactante, utilizando o aeroporto de Guarulhos como cenário para explorar temas profundos de memória, identidade e transformação social. É uma narrativa documental e reflexiva que vale muito a pena ser vista.