O Lado Bom da Vida

Onde assistir
“O Lado Bom da Vida”: Redescobrindo o amor em meio ao caos

O Lado Bom da Vida é uma comédia romântica diferenciada, e vai além dos padrões típicos do gênero. David O. Russell traz uma abordagem única, em que o humor tem um toque ácido e uma profundidade raramente explorada em filmes semelhantes. Mais próximo de produções como Eleição ou Sideways – Entre Umas e Outras, do que das comédias românticas convencionais, este filme revela que ainda é possível reinventar o gênero e surpreender o público.

O filme utiliza a questão da saúde mental como um catalisador para o romance, abordando o transtorno bipolar de Pat (Bradley Cooper) com uma seriedade surpreendente. Embora o tema seja complexo, ele é tratado de forma respeitosa, sem ser explorado de forma caricata ou ofensiva. Pat, um homem tentando se reerguer após perder o emprego, o casamento e a liberdade, precisa lidar diariamente com os altos e baixos de sua condição. A construção do personagem é feita de forma honesta, e vemos nele o retrato de alguém que luta para encontrar equilíbrio.

Pat acredita que pode reconstruir sua vida e reconquistar sua ex-esposa, Nikki, apesar da ordem de restrição imposta por ela. Quando conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma mulher com suas próprias complicações, ele vislumbra nela um meio de se reaproximar de Nikki. Tiffany propõe ajudá-lo, desde que ele aceite ser seu parceiro numa competição de dança, criando uma dinâmica que é ao mesmo tempo divertida e emocionalmente sincera. Pat, entre uma visita ao terapeuta e um jogo de futebol com o pai, encontra em Tiffany uma companhia inesperada e transformadora.

Os últimos momentos de O Lado Bom da Vida suavizam a abordagem sobre saúde mental para avançar a narrativa como uma comédia romântica mais convencional. Embora isso possa ser visto como uma perda de profundidade, a química entre Bradley Cooper e Jennifer Lawrence torna a transição natural e cativante. O casal protagoniza cenas carregadas de energia, e sua conexão vai além das palavras, trazendo à tona emoções autênticas que sustentam o final previsível sem comprometer a intensidade construída.

Cooper, conhecido por suas atuações em comédias como Se Beber, Não Case!, entrega aqui uma performance contida e verdadeira, equilibrando humor e drama de maneira brilhante. Já Lawrence, com um carisma irresistível, leva o público a esquecer sua personagem em Jogos Vorazes em poucos minutos. Juntos, eles formam um dos casais mais bem alinhados da tela, capazes de nos fazer torcer por seu romance até o final.

Robert De Niro, no papel do pai de Pat, traz uma interpretação que relembra sua grandeza como ator, ao lado de Jacki Weaver como a mãe compreensiva. As cenas familiares revelam um núcleo intenso e afetuoso, onde o apoio e as diferenças criam uma relação tão verossímil quanto comovente. De Niro, em particular, destaca-se ao trazer equilíbrio entre o cômico e o dramático, oferecendo uma performance digna de sua reputação.

Uma das grandes qualidades de O Lado Bom da Vida está na construção de personagens autênticos e apaixonados, que se afastam dos estereótipos de contos de fadas. Embora o desenlace do filme seja previsível, o caminho percorrido é o que prende o espectador. O roteiro equilibra romance e comédia com diálogos naturais e interações genuínas, e o humor surge organicamente das situações, sem a sensação de piadas forçadas.

Ao final, O Lado Bom da Vida não é apenas uma comédia romântica, mas um olhar honesto sobre as dificuldades e redescobertas na vida de pessoas que enfrentam seus próprios demônios. David O. Russell mostra que o gênero ainda possui fôlego para contar histórias interessantes e tocantes, especialmente quando conduzido por personagens tão bem desenhados. É uma experiência envolvente e inspiradora, que nos lembra que, mesmo em meio ao caos, sempre há um lado bom à espreita.

O filme se destaca ao trazer frescor para o gênero e deve agradar tanto ao público geral quanto à crítica, sendo um lembrete de que o amor pode florescer até nas circunstâncias mais inusitadas.

Você também pode gostar…