O Melhor Está Por Vir

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Em "Melhor está por vir", Nanni Moretti tenta mostrar que a ficção é o melhor lugar para se pensar a realidade.

Manter o otimismo diante do mundo contemporâneo – ou até mesmo diante da história recente – não é a característica mais comum do cinema feito no presente. O longa mais recente do diretor italiano Nanni Moretti, O Melhor Está por Vir, traz uma narrativa que serve como balanço da obra do diretor, assim como lida com questões estéticas e políticas de forma bem humorada. O diretor brinca com a ideia de que sempre é preciso retornar para certos cenários (e personagens) para que possamos avançar enquanto indivíduos ou coletividades.

O nome do filme em italiano é basicamente “o sol do futuro” que, além de remeter a uma canção sobre a liberdade, também antevê a crença no que virá. Em O Melhor Está por Vir, Nanni Moretti interpreta um de seus personagens heterônimos – tratado aqui pela alcunha de Giovanni –, um diretor que na terceira idade parece não encontrar mais seu lugar estético no cinema. Tudo parece ruir: o casamento de mais de quatro décadas com a própria produtora está acabando; o filme em que está trabalhando parece patinar enquanto produção e ele se vê perdido diante do cinema contemporâneo, cheio de barulho e cenas desnecessárias. Tudo é construído com o bom humor característico do italiano, que aqui trabalha com as roteiristas Francesca Marciano e Federica Pontremoli.

Giovanni está tentando terminar um filme que se passa na década de 1950, em Roma, sobre um grupo de húngaros que chegam na Itália logo após a invasão stalinista em seu país. A produção que está sendo rodada tenta mostrar a vasta diferença entre comunistas naquele período, a aversão a regimes totalitários e a necessidade de acreditar que o melhor realmente estava por vir. Enquanto o filme passa por altos e baixos, principalmente envolvendo o produtor francês, interpretado pelo sempre engraçado Mathieu Amalric, a esposa do diretor produz um blockbuster barulhento e sem muita preocupação ideológica, pelo menos é o que acha Giovanni. Talvez, alguns dos momentos mais interessantes – assim como alguns dos mais pedantes – de O Melhor Está por Vir estejam em Giovanni acompanhando o trabalho da esposa e questionando o jovem diretor sobre uma cena de execução entre bandidos, atrasando o trabalho e tentando enfiar à força algum senso estético no filme. Ao mesmo tempo que ele acredita que faz um cinema mais relevante, também não tem dinheiro, então consegue uma reunião com a plataforma Netflix e nada poderia sair pior (e tão engraçado) do que esse encontro.

O Melhor Está por Vir em vários momentos coloca quem assiste para rir porque consegue unir as crises políticas, ideológicas, estéticas e ainda debochar de si mesmo enquanto cinema. O tempo passou e segue passando para Nanni Moretti e seus personagens – não à toa, são sua extensão ficcional –, que ajudam a atravessar crises singulares que também são coletivas. Um dos pontos fracos do filme é que por ser bastante autocentrado (se passa em Roma e explora o diretor consigo mesmo e o cinema), provavelmente funcione mais para os espectadores conhecidos do diretor. No mais, é um bom filme para se pensar os limites da realidade, o deboche ao ensimesmamento e mais na ficção como um lugar onde é possível (re)existir.

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