A voz sedutoramente rouca de Luna (Juliana Schalch) volta a narrar as vidas das protagonistas do seriado de produção brasileira, O Negócio, criado por Rodrigo Castilho e Luca Paiva Mello para o canal HBO Brasil. Nessa terceira temporada, a série encara um novo desafio, depois do longo período que seu retorno ficou cozinhando. Como as vidas das garotas de programa evoluiriam a partir do sucesso absoluto de suas empreitadas na última temporada? Karin (Rafaela Mandelli), Luna e Magali (Michelle Batista) já se tornaram as mulheres mais bem pagas no ramo da prostituição paulistana e se encontram num patamar de milionárias, fazendo com que elas abandonem os atendimentos e fiquem apenas cuidando de seus bens. Mas Joana, ou como é chamada pelo nome de guerra, Karin, sempre se mostra ativa a conquistar mais e mais coisas, até o tão sonhado prédio de negócios, que ela pretende levantar num terreno que era da sua família. Enquanto esse desejo independente não chega, ela segue expandindo a marca Oceano Azul, que aliás é o ponto mais forte da série, já que não se trata somente de prostituição, mas também funciona quase como um tutorial de marketing e branding. A marca que começou como um escritório de agendamento para qualidade de vida, ou melhor, agência de garotas de programa, se tornou até garrafa de água junto com uma corporação grandiosa da capital paulista. Afinal, os maiores magnatas do país, conheciam e eram clientes da original Oceano Azul.
Nessa terceira temporada, as meninas encaram novamente o preconceito e a dualidade entre serem prostitutas, mas ocultar isso de pessoas próximas, como a família. Algumas subtramas continuam essa narrativa que já anda gasta e sem rumo. Praticamente os mesmos conflitos da segunda temporada aparecem aqui e o pano de fundo dos negócios vai ficando mais de lado. O vai e vem entre as protagonistas e seus namorados também não mostram novidade e estacionam num ponto que faz a gente perder o interesse. Sem contar no retorno de personagens episódicos das temporadas anteriores que não ajudam em nada também nesse processo de evolução para a série. Depois de toda a experiência no comando de uma grande empresa, uma decepção faz Karin voltar para o clube que ela, as meninas, seu amigo Cesar (Eduardo Semerjian) e o cafetão Ariel (Guilherme Weber), haviam montado. Agora ele se chama Blue e precisa de uma ação forte para impulsionar a fidelização dos membros do clube, que está um pouco em crise. Eis que surge uma nova personagem para se juntar as meninas e se tornar o produto mais desejado do clube. Mia (Aline Jones) vem com a promessa também de desestabilizar e causar ciúme em Luna e Magali, mas isso acontece em partes quase invisíveis e percebemos que a série parece ter medo de criar confusão e não saber como sair depois de tal situação que foge da zona de conforto do roteiro.
Os episódios são cheios de metáforas e os personagens viram contadores de histórias passadas que lembra um livro cheio de detalhes e que vão dando um leve sono no decorrer da página. Os diálogos irreais e falados de maneira muito certinha deixam as cenas falsas sem contar as situações excêntricas. O roteiro também tenta fazer um humor intelectual e altamente sofisticado sobre referências a arte e literatura que não tem a menor graça, sem contar que não combina com o repertório das protagonistas, que são jovens e moram na maior capital do país. Esse é o tipo de coisa que assombra as produções brasileiras. Ao mesmo tempo que a gente tem as comédias inteiramente inspiradas nas produções americanas e os filmes sobre comunidades e violência, a distinção para algo mais cosmopolita acaba soando forçada demais, talvez pela falta de peso da direção de atores, que fica faltando em O Negócio.
A série propõe emoções vazias e as mortes de personagens não causam nenhuma reação devido a construção morna do elenco. Talvez o ponto mais alto de toda a temporada seja a trama de Magali que vira amante da mulher do amante da esposa de seu namorado. Complicado sim, mas a cena de descoberta foi boa. Outro momento que era pra ser o auge para o final da temporada era a partida de Karin para a Europa, mas sua ausência nos episódios também não fez falta e seu paradeiro perdeu importância. O charme e a sofisticação de O Negócio, procura abordar o lado glamouroso de mulheres que escolheram essa profissão e não foram vítimas dela, nos levando a crer que o mundo dos negócios, atrelado a prostituição, é uma via de mão única. Você tem a oferta e a demanda e o público muda, assim como o produto de uma companhia também deve acompanhar essa mudança. Talvez os criadores poderiam aprender com a mesma premissa do programa e inovar, criar e expandir caso haja uma próxima oportunidade