Há um encanto quase hipnótico em O Tigre e o Dragão, um tipo de beleza que envolve o espectador em sua delicadeza e grandiosidade. Ang Lee constrói uma narrativa que equilibra ação e poesia visual, conduzindo-nos por uma China antiga onde os guerreiros parecem desafiadores das leis da física e das próprias emoções. O filme desliza entre a introspecção e o espetáculo, oferecendo cenas de combate meticulosamente coreografadas e uma trama repleta de honra, desejo e sacrifício.
A história gira em torno de Li Mu Bai (Chow Yun-Fat) e Yu Shu Lien (Michelle Yeoh), dois guerreiros experientes que compartilham um amor não declarado, mas que precisam lidar com um furto inesperado: a lendária espada Destino Verde é roubada, e a suspeita recai sobre a jovem aristocrata Jen (Zhang Ziyi). A busca pelo artefato é apenas o ponto de partida para um enredo que se desenrola como um poema, revelando paixões contidas, relações de poder e o peso das escolhas.
O visual do filme é um de seus maiores trunfos. A fotografia de Peter Pau transforma cada cena em uma pintura viva, dos palácios ornamentados às vastas paisagens naturais. A sequência no deserto, que mergulha no passado de Jen e seu romance com o bandido Lo (Chang Chen), se destaca pela intensidade emocional e pela energia vibrante de suas imagens. O filme atinge um estado de pura contemplação, fazendo com que o espectador sinta tanto a vastidão do cenário quanto a solidão dos personagens.
Mas se O Tigre e o Dragão deslumbra visualmente, sua narrativa por vezes se arrasta. Ang Lee adota um ritmo meticuloso, quase cerimonioso, que embora funcione para reforçar a melancolia da história, também distancia o público de seu lado mais visceral. A química entre Li Mu Bai e Shu Lien é perceptível, mas contida ao extremo, a ponto de seu romance parecer menos uma paixão reprimida e mais um dilema silencioso que nunca se resolve.
Zhang Ziyi, no entanto, injeta fogo na tela sempre que aparece. Sua Jen é enigmática, rebelde e imprevisível, oscilando entre fragilidade e fúria com uma presença magnética. Seu desempenho ajuda a preencher as lacunas emocionais do filme, tornando-a o verdadeiro coração da história. A sequência em que ela enfrenta Shu Lien em um duelo dentro de um templo é um espetáculo à parte, unindo técnica e emoção em uma dança feroz.
Quando a ação entra em cena, o filme brilha como poucos. As lutas coreografadas por Yuen Wo-Ping são fluidas, etéreas e repletas de significado. Guerreiros desafiam a gravidade, pulam entre telhados e deslizam sobre a água como se estivessem em um sonho. Essas batalhas não são apenas confrontos físicos, mas expressões do que os personagens sentem e não podem dizer. Cada golpe, cada salto é carregado de emoção e subtexto.
No fim, O Tigre e o Dragão é uma experiência visual arrebatadora e um estudo sobre desejo e renúncia. Seu lirismo muitas vezes supera sua intensidade emocional, e a sutileza de Ang Lee pode tanto cativar quanto frustrar. Mas quando os personagens desafiam as leis da natureza e se entregam ao voo, o filme encontra sua essência: um conto de amor, honra e destino, flutuando entre o chão firme e os céus infinitos.