Na onda do politicamente correto e do ativismo a favor de causas louváveis, estão algumas produções que pregam por um funcionamento mais saudável da sociedade e também por um senso de condenar o lucro a todo custo. Nessa linha acaba de chegar Okja, o novo filme original Netflix, dirigido por Joon-ho Bong (Expresso do Amanhã).
A história nos leva até as montanhas da Coreia do Sul, onde Mija (Seo-Hyun Ahn) tenta impedir que sua melhor amiga seja tirada dela e levada para ser abatida nos Estados Unidos, onde virará carne processada. Por mais pesada que a premissa pareça, o roteiro dá conta de construir um argumento que faça valer a pena todo esse drama. Além de criticar sem pudor a indústria alimentícia, o diretor também abusa dos estereótipos dos filmes americanos, como a CEO bem sucedida e o apresentador de programa animal para ligar todos esses pontos e chegar a uma mistura de King Kong, A Viagem de Chihiro e Lilo & Stitch.
Há muitos aspectos surpreendentes no filme, como por exemplo os efeitos visuais criados para a superporca Okja. A câmera ostenta texturas, toques e níveis de luz, dimensão e profundidade para criar sua realidade. E consegue com sucesso. Outro ponto positivo é o elenco, que inclui Tilda Swinton, Jake Gyllenhaal, Paul Dano, Lily Collins e Steven Yeun, que emprestam seus traços e suas influências como atores e figuras públicas para aderir a causa.
Num discurso unilateral e sem deixar as cenas pesadas de maus tratos de fora, o filme ainda consegue transformar sua grande criatura digital em um símbolo encantador, porém conduz a história para uma direção inusitada que acaba atrapalhando na construção da emoção criada entre a menina e o animal. Fica evidente que a fotografia do filme dita o tom da trama. Quando vemos a floresta ou as cenas de Mija, a trama se leva a sério, mas quando a imagem apresenta a cidade, tudo beira o deboche completo. Por mais intencional que seja, o resultado do filme fica comprometido, mesmo com uma mensagem tão importante.