Paraíso

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"Paraíso" é um drama do Holocausto monocromático, mas cheio de nuances

Você nunca verá a palavra Paraíso sobreposta a uma imagem tão sombria quanto nos créditos iniciais do novo filme de Andrei Konchalovsky (O Quebra Nozes: A História Que Ninguém Contou): o letreiro anunciando o título do filme aparece enquanto os gritos de uma mulher russa recentemente presa ecoam pelos corredores de uma prisão úmida e nada convidativa (desde quando prisões são convidativas, Felipe?).

Paraíso é filmado em um sóbrio tom monocromático e o robusto e absorvente drama é construído sobre conjunções destoantes e improváveis de graça e desespero.

O filme se passa durante um terrível período da Segunda Guerra Mundial de intensos conflitos bélicos, as vidas de três pessoas acabam se cruzando: Olga (Yuliya Vysotskaya), uma aristocrata russa e membro da resistência francesa; Jules (Philippe Duquesne), um francês; e Helmut (Christian Clauss), um oficial de alta patente dentro das tropas nazistas.

O tom e a visão do filme mudam ao longo das histórias que ele retrata, chegando até a parecer um documentário com depoimentos em certos momentos, no qual nos sentimos bastante desconfortáveis.

Depois que Filho de Saul proporcionou uma câmera imersiva, em primeira pessoa, sobre os horrores dos campos de concentração nazistas, uma barreira de como inovar na forma de mostrar esse momento histórico foi criada. Mas com sua estética autoconscientemente clássica, Paraíso consegue ser inventivo na forma como mostra esse período.

O filme alterna, de forma imparcial, entre os relatos exaltados e subjetivos do opressor nazista e da vítima, até que eles se encontram em algum lugar. Os atores entregam interpretações notáveis, suas performances se completam em seus silêncios e seus surtos de emoção velados.

De qualquer forma, outro grande trunfo do filme é a fotografia impecável de Aleksandr Simonov. Ela não embeleza os horrores retratados, mas concede-lhes a severidade visual e serenidade que merecem, cada um no seu determinado momento específico.

Andrey Konchalovskiy termina por nos lembrar que, embora muito se fale e muito se mostre em relação ao Holocausto, ninguém deixa de fato este pesadelo inteiramente livre.

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