Pedágio

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"Pedágio": desvelando a realidade da vida na classe trabalhadora brasileira

O filme Pedágio, dirigido por Carolina Markowicz, oferece uma representação vívida da vida da classe trabalhadora brasileira, pintando um quadro convincente das lutas cotidianas enfrentadas por indivíduos de baixa renda. Em seus primeiros cinco minutos, o filme apresenta a rotina de Suellen (Maeve Jinkings), uma mulher que acorda antes do amanhecer, enfrenta a precariedade do transporte público em bairros pobres e corre para chegar ao trabalho, onde o salário mínimo é a única garantia de sobrevivência.

O enredo gira em torno de Suellen e seu filho Toninho (Kauan Alvarenga), que tentam sobreviver à vida adulta e à adolescência, mas acabam em conflito, especialmente quando se trata de sexualidade e masculinidade. Pedágio destaca de maneira clara e rápida que a hipocrisia será o tema central, revelando-a em vários personagens, principalmente naqueles que usam a religião como desculpa para justificar o preconceito contra a comunidade LGBTQIAPN+.

O filme também argumenta que a ignorância frequentemente acompanha o preconceito, uma realidade preocupante em um mundo onde terapias de conversão ainda são uma prática. Suellen, frustrada com as escolhas de seu filho, considera medidas extremas para “corrigir” o que ela vê como uma “condição” em Toninho.

Maeve Jinkings oferece uma atuação delicada, revelando as hesitações de Suellen em cada decisão, sugerindo que ela sabe, no fundo, que suas ações estão equivocadas. O roteiro de Markowicz explora camada atrás de camada de Suellen, mostrando sua dedicação em apontar supostos problemas na vida de seu filho enquanto ignora suas próprias falhas.

O filme destaca as contradições presentes em personagens religiosos que rapidamente apontam o dedo para os outros, mas hesitam em se autoavaliar. Telma (Aline Marta Maia), uma personagem que minimiza e justifica seu próprio comportamento usando o nome de Deus, exemplifica essa contradição, especialmente quando se trata de sexualidade e identidade.

Ao passar mais tempo com Suellen, percebemos suas próprias contradições e dilemas. Empatizamos não apenas por entender a realidade em que ela vive, mas também porque reconhecemos nossas próprias contradições. Pedágio explora eficientemente Suellen como personagem, mas Toninho, infelizmente, não recebe totalmente o mesmo cuidado. O filme o retrata como vítima do ambiente ao seu redor.

No entanto, Pedágio não deixa de explorar os temas delicados. Ao mergulhar nas complexidades da vida de Suellen, o filme nos impede de julgar rapidamente suas decisões, sugerindo que há sempre tempo para reconsiderar ações. Embora o conflito mãe-filho não seja resolvido de forma conclusiva, o filme sugere que Suellen será forçada a confrontar suas próprias noções de certo, errado e o que está sujeito a debate.

Com uma produção simples, mas eficaz, e a excelente atuação de Maeve Jinkings, Pedágio proporciona uma visão multifacetada da vida de Suellen. Ao conhecer suas lutas, somos levados a não julgar precipitadamente suas decisões, especialmente porque ela mesma questiona suas ações ao longo do filme. O título do filme é habilmente conectado à ideia de que, às vezes, as pessoas precisam pagar um preço para perceber que não estão agindo da melhor maneira e que sempre há tempo para reconsiderar suas ações.

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