Philomena

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O peso do perdão e o valor da busca em “Philomena”

Baseado em uma história real, Philomena mescla investigação, amizade improvável e um julgamento crítico às atitudes desumanas da Irlanda dos anos 1950 e da política americana dos anos 1980. Inspirado no livro de Martin Sixsmith, o filme narra a jornada de Philomena Lee, uma mulher que busca seu filho dado para adoção à força cinco décadas antes, agora acompanhada do jornalista Sixsmith (Steve Coogan). Sob a direção precisa de Stephen Frears, o filme é tocante e, ao mesmo tempo, indignante, revelando os desafios de uma mãe e de um filho separados por segredos e preconceitos.

A trama é contada com o auxílio de flashbacks que revelam o início trágico da história. Philomena, jovem e grávida, foi enviada a um convento onde, como muitas mulheres da época, foi mantida contra sua vontade para “pagar” pelo nascimento do filho. Três anos depois, a criança foi vendida para uma família americana. Ao longo dos anos, ela vive com o pesar de não saber o paradeiro do filho, até que em 2004, quando conhece Sixsmith, finalmente ganha a oportunidade de descobrir seu destino.

A investigação, impulsionada pela curiosidade e tenacidade de Sixsmith, leva os dois aos Estados Unidos, onde descobrem que Anthony, o filho de Philomena, foi rebatizado como Michael Hess. Ele se tornou um advogado proeminente e atuou como Conselheiro Jurídico para o Partido Republicano. No entanto, Michael viveu e morreu em segredo, como um homem gay durante uma época em que o preconceito e a homofobia ainda eram amplamente disseminados, especialmente no ambiente político dos anos 1980.

Embora o filme tenha momentos de humor — marca registrada de Steve Coogan — a história mantém um tom sério e comovente, fiel à complexidade da trama. O desenvolvimento da amizade entre Philomena e Sixsmith adiciona profundidade ao filme, mostrando como duas pessoas com perspectivas diferentes sobre a vida e a fé conseguem se unir em uma causa comum. Esse vínculo, repleto de compreensão mútua e respeito, traz leveza e reforça o tema da reconciliação em meio à dor.

A relação entre Philomena e seu filho perdido é o coração do filme, e a atuação de Judi Dench é memorável e digna de prêmios. Dench transmite as emoções da personagem com tanta autenticidade que é impossível não se emocionar com sua jornada. A mistura de arrependimento, raiva e aceitação que Philomena experimenta nos envolve de forma sincera e crua, fazendo-nos torcer por sua busca por respostas e, principalmente, por seu tão merecido encerramento emocional.

O filme também lança um olhar crítico e direto sobre as práticas da Igreja Católica Irlandesa dos anos 1950, que forçava essas mulheres a se submeterem a anos de punição e silenciamento. Frears não poupa críticas à instituição, que aparece aqui como um símbolo de um sistema que se beneficiava da dor e da fragilidade de jovens mães. O papel da homofobia nos EUA nos anos 1980, especialmente dentro do Partido Republicano, também é exposto, criando um contraste entre a tolerância de Philomena e o ressentimento expresso por Sixsmith.

Em um estilo direto e pouco glamoroso, Philomena foge das armadilhas hollywoodianas de dramatização excessiva. Frears opta por uma abordagem discreta e honesta, permitindo que a história fale por si só. É um filme que não precisa de artifícios para comover, pois sua força está na simplicidade e na sinceridade de sua narrativa.

Em última análise, Philomena nos lembra o poder da resiliência e a importância do perdão, mesmo diante das maiores injustiças. A busca de Philomena é tão fascinante quanto dolorosa, e sua conclusão traz um senso de paz, mesmo que permeado de tristeza. Trata-se de um drama humano em sua essência, que nos faz refletir sobre a complexidade das emoções e sobre o que realmente significa encontrar fechamento diante do sofrimento.

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