Preacher – 1ª Temporada

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O selo Vertigo da DC Comics é uma divisão da editora que permite histórias mais violentas e passa da linha dos limites dos super-heróis. Isso dá liberdade criativa para os artistas explorarem palavrões, controvérsias, drogas e nudez. Uma das HQs mais mais cultuadas desse gênero é Preacher, criada por Garth Ennis, Steve Dillon e Glenn Fabry, lançada em 1995. Naquela época era moda criar e ambientar personagens e criaturas para fazerem absurdos sobrenaturais e imortalizar piadas infinitas de humor negro. A história de Preacher conta a trajetória do pastor Jesse Custer, que é tomado por uma entidade divina chamada Genesis, dando a ele o poder da Voz de Deus.


Nas mãos de Sam Catlin, Evan Goldberg e Seth Rogen, os quadrinhos viraram série de tv para a rede norte-americana AMC, a mesma de The Walking Dead, adaptando o primeiro volume da obra para a primeira temporada. Na série, a premissa é a mesma e Jesse Custer vivido por Dominic Cooper (o Howard Stark do Universo Marvel dos cinemas) recebe seu poder e procura entender como e quando usá-lo. Ao lado do pastor estão sua parceira de crime Tupila, vivida pela incrí­vel Ruth Negga (Warcraft) e o vampiro Cassidy, vivido por Joseph Gilgun (Misfits). Inclusive um dos pontos principais do programa é o casting dos atores principais que captam a essência das HQs em performance e possuem uma dinâmica de cena impecável.


Por se tratar de uma adaptação para outra mí­dia, é ingênuo pensar que a produção seguirá os moldes de Sin City em adaptação literal. Como o grande público não conhece esses personagens e esse universo, algumas mudanças foram precisas, mas nada que atrapalhe para quem também é fã. O arco de Jesse é um pouco mais estendido para justificar suas ações e seus traumas. Os flashbacks que contam seu passado com seu pai na pequena cidade de Annville vão montando as peças para a intriga do público que começa a entender porque ele tenta esconder seu lado violento do povo da cidade e também de Tulipa que constantemente lembra o protagonista do que ele é capaz. Já que o programa precisa se estabelecer primeiro, percebemos a limitação em algumas tramas que ainda ficam tímidas e pouco surtadas. Nos quadrinhos não há muita explicação e praticamente metade da série já se passou quando a leitura começa, então a base está muito bem montada para coisas mais arriscadas na já anunciada segunda temporada.


A série brinca e critica o fanatismo religioso através do pastor e da tí­pica cidade pequena americana, cheia de hipocrisia, maus costumes e excentricidades. Jesse, usa todos esses argumentos para levar as pessoas de volta a igreja e com seu poder de atrair a atenção dos fiéis para Deus, que segundo ele, tem um plano maior. Mas também vindos do céu, chegam os anjos que estão buscando Genesis, a entidade que habita em Jesse, e por não conseguir capturá-lo, eles convocam o Santo dos Assassinos, que aparece também em flashbacks pontuais na série. A direção bebe muito na fonte do cineasta Robert Rodriguez, mas não caem para o trash e não esculacham as piadas, que são colocadas mais em situações do que em diálogos ou sarros. O mais legal é quando aparece as placas da cidade alteradas com frases referentes ao que está acontecendo na trama, mostrando essa sinalização e conversa com o expectador. Um mimo interessante para os fãs.


Com boas cenas de ação e montagem caprichada, a série promete voltar menos contida e pode ter muitas mudanças, principalmente de cenário, acompanhando os volumes das HQs. O que fica bem marcado, até por conta da trama, é como a fé pode mudar a visão das pessoas e como sua descrença pode estagnar uma vida sem perdão. E a brincadeira com esse tabu mundial pode parecer ofensiva, mas é puro ouro.

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