Desde o início de sua carreira, Guy Ritchie eleva capangas e antiheróis ao status de herói. Mas depois de Sherlock Holmes ele vem fazendo o contrário. A ideia, aparentemente, é fazer com que esses ícones culturais se tornem relacionáveis, mas o efeito é quase uma calúnia. Se tivesse existido algum Sherlock ou Arthur certamente ficaria horrorizado ao ver-se retratado como tal “bandido” comum.
Na versão rock & roll de Rei Arthur: A Lenda da Espada, quanto menos você souber sobre a lenda em questão, melhor. O diretor deixa de lado quase todas as noções arthurianas que temos de séries literárias como O Único e Eterno Rei, de T.H. White, e tentou dar um ar de novidade que faz de Monty Python em Busca do Cálice Sagrado uma obra de erudição histórica, em comparação.
O resultado é épico, apenas no sentido da grandiosidade dos cenários virtuais elaborados e da quantidade de figurantes digitais que estão em cena. Fora isso , é apenas um longa barulhento e chamativo em que cada cena de ação serve apenas para levar a próxima, cada uma fazendo menos sentido do que a anterior.
No filme, Arthur (Charlie Hunnam) é um jovem das ruas que controla os becos de Londonium e desconhece sua predestinação até o momento em que entra em contato pela primeira vez com a Excalibur. Desafiado pela espada, ele precisa tomar difíceis decisões, enfrentar seus demônios e aprender a dominar o poder que possui para conseguir, enfim, unir seu povo e partir para a luta contra o tirano Vortigern (Jude Law), que matou seu pai (Eric Bana) e tomou o trono.
Ritchie e seus co-roteiristas Lionel Wigram e Joby Harold (que vendeu a ideia para o estúdio como uma franquia de diversos filmes) parecem ter confundido o Rei Arthur com Robin Hood, re-imaginando o primeiro cavaleiro da Inglaterra como uma espécie de gângster apoiado por uma população de moradores da floresta (arqueiros, em sua maioria) ansiosos por enfrentar o rei déspota Vortigern.
O diretor parece mais preocupado em parecer um passo a frente de seus colegas estilosos e com isso parece beber na fonte de diretores como Zack Snyder (300), Tarsem Singh (Espelho, Espelho Meu) e Alex Proyas(Deuses do Egito). Coletivamente, esses diretores chegaram a um ponto em que seus filmes correm o risco de desmoronar sob o peso de seu design de produção (embora eu, particularmente, goste muito do cinema de Snyder e Ritchie), especialmente porque Hollywood não produz mais grandes estrelas para competir com a enormidade dos ambientes que os rodeiam.
Ao menos Hunnam tem o potencial para ser o próximo Brad Pitt. Ele tem presença, junto com a vulnerabilidade que é essencial no papel de Arthur, um príncipe de sangue verdadeiro, órfão do tio, criado em um bordel, educado nas ruas e levado a improvável posição de ter que salvar o reino. O problema é que Hunnam compete em Rei Arthur: A Lenda da Espada com muita informação estapafúrdia. É como se Ritchie fizesse da lenda mais uma busca pelo paradeiro de uma arma rara, preocupando-se muito mais com a espada do que com o homem que a maneja.