A Corte

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"A Corte": O julgamento interior de um juiz impiedoso

Você pode pensar que A Corte é mais um filme de tribunal apoteótico (e seria, caso fosse um filme hollywoodiano), mas como trata-se do novo filme de Christian Vincent, de A Separação (1994), o filme tem muito mais além da superfície que temos contato em um primeiro momento.

Michel Racine é um temido juiz, presidente de tribunal. Tão rigoroso consigo mesmo quanto com aqueles que o cercam, ele é conhecido como “o Presidente com dois dígitos”, nome que lhe foi atribuído por suas sentenças serem sempre superiores a dez anos. Tudo muda no julgamento do novo caso de Racine, quando ele encontra Ditte Lorensen-Coteret. Ela faz parte do júri popular que deverá julgar um homem acusado de homicídio. Há anos, Racine amava essa mulher, quase em segredo e agora, ao longo dos três dias de julgamento, eles irão se reaproximar.

Quando o filme começa, Racine é um ser durão, sisudo, por assim dizer. Ele é extremamente exigente e pouco amigável, com pessoas se referindo a ele como “um vento gelado” e uma outra pessoa – praticamente todos os personagens periféricos são meros espectadores não identificados – explica o quão ranzinza Racine é, conhecido por suas sentenças severas e por uma frieza em seus julgamentos.

Enquanto tenta sobreviver à uma gripe, Racine precisa presidir o julgamento do assassinato de uma bebê de 7 meses que teria sido chutada pelo pai, e é quando ele reencontra Ditte Lorensen-Coteret e o começa a transitar entre o tribunal e a vida destes personagens, mesmo que o pano de fundo nunca deixe de ser, única e exclusivamente, o caso que os reuniu novamente.

A fotografia acerta na ambientação. Enquanto as cenas no tribunal são todas em planos abertos e cores mais claras, sugerindo um grande palco com atores/juízes (o circo da justiça, se você preferir), os encontros com Ditte, por outro lado, são realizados em closes e cores mais escuras e saturadas, como se estivessem ocorrendo em um universo paralelo das vidas desses personagens.

Para alguns, o filme peca em não se aprofundar no crime que está sendo julgado por Racine. Não é o caso! O filme é sobre A Corte – seu presidente, na verdade. E a transformação bastante grosseira desse personagem, ao longo da trajetória do filme, é o ponto alto para explorar o tribunal de uma nova perspectiva.

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