Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos

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Peter Pan e Alice são irmãos em "Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos"

Para alguns, a ideia de Brenda Chapman (Valente) fazer sua estreia em live-action com Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos tornará o longa empolgante. Para outros, é o conceito literário por trás do filme que atrai: e se Alice, de Alice no País das Maravilhas, e Peter Pan fossem irmãos? Além disso há o elenco encabeçado por Angelina Jolie (do recente Aqueles Que Me Desejam a Morte) e David Oyelowo (Selma: Uma Luta Pela Igualdade) como os pais dos respectivos personagens, que apresenta as melhores possibilidades em termos de como a história pode lidar com as dinâmicas sociais examinadas dentro do cenário da época na qual o filme se passa.

Infelizmente, Alice e Peter desperdiça todas essas oportunidades em um drama familiar pesado que até mesmo a Netflix (onde muitas vezes conceito importa mais que qualidade) não se interessou em adquirir o longa quando ele estreou em Sundance em janeiro passado. Mas há uma razão por trás da aceitação de Alice e Peter. É difícil se empolgar para um filme em que se espera uma perspectiva fantástica, mas acaba tão sério e trágico como este.

A história mostra um trio de crianças criadas por seus pais visionários, Jack (Oyelowo) e Rose Littleton (Jolie), que incentivam a criatividade deles – ao contrário de sua tia esnobe Eleanor (Anna Chancellor, de O Guia do Mochileiro das Galáxias). Peter (Jordan A. Nash, de Aladdin) descobre um navio pirata em miniatura perto do riacho em seu quintal e fantasia que é o líder de uma gangue de “meninos perdidos”, em guerra com índios que só ele pode ver. Alice (Keira Chansa, de Os Irregulares de Baker Street) oferece elaboradas festas de chá para seus bichinhos de pelúcia. Deve-se notar que esta é uma história de origem alternativa para ambos os personagens, e nenhum ainda embarcou nas aventuras pelas quais são amados – uma decepção para quem espera passar um tempo na Terra do Nunca ou no País das Maravilhas.

Antes que o público comece a se entrosar com os dois, seu irmão mais velho, David (o estreante Reece Yates), morre em um acidente estranho. Dos três atores mirins, Yates parecia o mais promissor, mas agora ficamos presos a duas crianças que Chapman não sabe como dirigir, focando mais em sua dicção do que em suas performances. Nash e Chansa não parecem acreditar em seus papéis – o que se mostra irônico, considerando que a imaginação é parte central nos trabalhos de J. M. Barrie e Lewis Carroll. Se o público jovem não consegue se encontrar nesses personagens, o filme certamente está fadado ao fracasso.

E então temos Jolie, que tenta interpretar o papel de melhor mãe do mundo mas passa para um drama forte, bebendo sua dor em particular. A trilha sonora de John Debney (O Rei do Show) fica muito melancólica por um tempo, mas pode ser considerada um dos pontos altos do filme. Enquanto Alice insiste em acreditar que David não está realmente morto, mas apenas se escondendo, seu pai passa por momentos difíceis, caindo de volta em um hábito autodestrutivo. Se isso soa como uma tragédia terrível para um filme cuja ideia era ter Alice e Peter como irmãos, infelizmente é o caso.

Por grande parte dos 94 minutos de duração do filme, a roteirista estreante Marissa Kate Goodhill se ocupa demais estabelecendo o entediante “mundo real” em que essas duas crianças foram criadas, até que o público inevitavelmente perceba que o filme não tem intenção de nos levar a outro lugar (como era esperado). Isso parece ser uma falha no conceito, ao invés de falta de recursos, já que a produção independente possui sets interessantes, especialmente as locações vitorianas de Londres, onde os irmãos encontram um chapeleiro maluco (Clarke Peters, de Destacamento Blood) e têm um desentendimento com o o capitão James (David Gyasi, de Interestelar).

Talvez se Chapman tivesse atenuado alguns dos temas mais adultos do filme – o alcoolismo de Rose, o vício de Jack em jogos de azar, entre outros, o espectador não sentisse uma aura tão pesada na produção. O filme é algo como um longo e lento acúmulo de energia negativa que prenuncia algo maravilhoso que nunca chega. O que deveria ser uma desculpa perfeita para fugirmos da dura realidade, parece na verdade uma receita para uma vida inteira de terapia, o que dificilmente é o que o público espera de ambos os personagens título.

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