Antes o Tempo Não Acabava

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"Antes o Tempo Não Acabava" tira o espectador do eixo habitual

Anderson (Anderson Tikuna) é um jovem que possui raízes na etnia indígena Sateré-Mawé, e que se muda para Manaus. Ele começa a se ver preso entre os embates culturais das tradições do mundo onde veio e os costumes urbanos.

A produção de Sergio Andrade e Fábio Baldo ganhou em 2016 o prêmio de melhor longa-metragem no festival português Queer Lisboa, onde Anderson também levou o prêmio de melhor ator.

Embora o início do filme seja com cenas de um ritual de passagem, onde temos adolescentes meninos sendo preparados para a vida adulta. Não sinto que o ritual seja para provar masculinidade, mas sim a capacidade de o rapaz ser um guerreiro dali para a frente. E essa cena inicial faz o filme flertar com algo documental.


O filme inova ao trazer à tona o dilema de um personagem nada comum para o nosso dia a dia – temos um indígena em conflito com a sua sexualidade. Fica muito claro na produção que a interação dos autores foi muito maior com o lado urbano dos índios, afinal isso é muito comum nas grandes cidades do norte do país. Embora seja também nossa etnia matriz, e por pura falta de interesse e contato, muito nos faz pensar que essa história de tribos é algo muito distante. Mas mesmo sem muito aprofundamento nos costumes, os diretores relatam a vida na tribo e o dilema do jovem que não se enquadra nas principais tradições passadas por seus antigos líderes.

O filme traz temas que para o público comum podem ser chocantes, entre eles a questão do infanticídio, o qual sabemos ser praticado em muitas tribos no país, e por isso é um momento que pode ser tenso para algumas pessoas, mas novamente a nossa falta de conhecimento sobre nossa própria história nos desafia a entender os reais motivos dessa prática. Talvez por isso o filme pareça tão estranho, porque nunca nos demos nem ao trabalho de pesquisar como o índio foi realmente afetado com os costumes europeus e religiosos trazidos por nossa colonização forçada com a invasão portuguesa.

Não é um filme para ficarmos presos a atuação, enquadramento, fotografia, e outros detalhes cinematográficos, mas é uma produção para percebemos que é possível pensar fora da caixinha e se abrir para o novo.

As cenas dentro da aldeia são carregadas de costumes alheios ao nosso conhecimento, mas a cenografia é muito rica em detalhes justamente por conta disso. O lado urbano também é cheio de novidades, afinal vivemos tanto dentro de um país só de sul e sudeste, que não percebemos que o que existe no resto do Brasil é muito normal para outras pessoas. Não são erros e defeitos cinematográficos, apenas novidades.

Curiosidades a parte o nome do filme é uma singela homenagem a um livro de contos indígenas: Antes o Mundo Não Existia.

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