Better Days

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"Better Days" é um filme esforçado sobre a violência da adolescência como reflexo de várias questões na China contemporânea

Das narrativas otaku às variações de doramas asiáticos, a temática do bullying parece povoar o imaginário de histórias envolvendo a adolescência. Não que isso seja uma particularidade de culturas asiáticas, afinal, as muitas formas de assédio neste período da vida fazem parte de realidades marcadas por homicídios, suicídios e outros tipos de violência na cultura ocidental recente. Better Days, dirigido pelo hongkonês Derek Tsang – e indicado ao Oscar de filme estrangeiro pela China – trata justamente de formas em que a violência e assédio no último ano da escola se somam a pressão do vestibular, afetando escolhas da vida adulta, além de revelar profundos traumas de infância e adolescência. 

O filme, que é baseado em um romance YA, começa com o choque de um suicídio de uma adolescente na escola. A situação se desenrola mostrando uma série de acontecimentos – espécie de flashes de memória – que mostram a prática de bullying de um grupo de meninas com a menina morta. Um dos destaques dessas cenas é Chen Nian, uma adolescente da turma que aparentemente entende as motivações do suicídio, tanto que ela passa a ser o alvo do grupo. O ambiente hostil da escola se apresenta como um reflexo da pobreza acontecendo no ambiente doméstico e a briga de gangues nas ruas. Há um clima de violência – tanto as simbólicas quanto as materiais – que permeia todo o filme. Em contraponto, há também a tentativa de inserir uma narrativa de empatia romântica; em uma das situações de assédio na rua, Chen Nian conhece um rapaz um pouco mais velho que está apanhando e ambos acabam salvando um ao outro de certa forma.

Apesar desse tópico com materialidade e narrativas bem demarcadas, Better Days é um filme que tenta dar conta de muita coisa e, ao mesmo tempo, quer fugir de várias amarras estéticas tradicionais, acabando por falhar em todos os aspectos: tudo soa exagerado e vazio ao mesmo tempo. Enquanto o filme tenta se mover com base na denúncia do bullying, também tenta dar conta de discutir o sistema de ensino chinês, a ausência parental de famílias pobres assim como a negligência das ricas; além do abandono de crianças e a total descrença dos sistemas educacionais e prisionais. São todas críticas válidas, mas aqui se perdem totalmente na tentativa de construir isso sob uma história de amor que acontece na base da angústia e da impulsividade características da adolescência, bem no clima clássico dos doramas.

Apesar do filme ter uma montagem que se perde em muitas elipses – mal resolvidas em flashbacks – ele se esforça ao representar uma geração de jovens violentos, seja pelo tédio ou pelas condições de classe da China contemporânea. Mas é interessante que ao mesmo tempo também ovaciona o esforço de milhares de adolescentes para chegar na universidade, como se a narrativa do filme também tivesse seus limites de exposição e no fim quase justificasse a violência e o assédio. Aí que Better Days descamba ora para a porradaria e investigação (outro dos arcos do filme), ora para a impossibilidade de um amor juvenil.

No fim, fica a sensação que Better Days foi uma escolha diplomática não apenas do país – que pela primeira vez escolheu um filme dirigido por uma pessoa nascida em Hong Kong – mas também da academia. Apesar de carregar temas e discussões pertinentes, o filme se arrasta por duas horas em um drama superficial com pitadas de violência e uma mensagem de autoajuda no final.

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