Garota Sombria Caminha pela Noite

Onde assistir

(antes de começar a ler, faz um favor a você mesmo e coloca a trilha sonora do filme pra tocar: AQUI)
No filme A Girl Walks Home Alone at Night, que traduzindo ao pé da letra ficaria “Uma garota caminha sozinha para casa à noite”, traz uma protagonista que curte caminhar, sozinha, à noite, por ruas desertas e escuras. E você sente na pele quão sombria e assustadora a situação é, pois é muito perigoso pra uma mulher ficar andando sozinha à noite, em qualquer lugar do mundo (claro que em alguns mais, em outros menos, mas em todos é perigoso). E você fica observando a fragilidade da garota na tela e imaginando os perigos que ela corre, tanto reais quanto imaginários. As sombras a perseguem, os passos ecoam atrás dela. Mas será mesmo? Opa, espera! Ela é a sombra, ela provoca os passos atrás das pessoas. E aí vem o título do filme no Brasil, Garota Sombria Caminha pela Noite, e você percebe que a garota que podia ser a presa em uma rua escura à noite, é na verdade a predadora.
01
Mas não se engane, não! O filme é tudo menos uma história de terror. Claro que ele vai provocar alguns arrepios em pessoas mais sensíveis a ruas escuras e pessoas sendo seguidas por uma figura vestindo uma espécie de capa (como este curta AQUI), mas no geral você vai mesmo é rir, curtir ou até mesmo ficar meio pasmo com o filme. Este faroeste vampiresco surreal se passa em uma cidade fictícia em uma região suburbana iraniana. Mas podia se passar em muitos subúrbios do mundo. Na história, uma garota misteriosa (e sem nome) procura presas nas ruas escuras de Bad City para poder se alimentar. Em suas andanças, ela entra em contato com diversos tipos de pessoas, apesar de não se ligar a nenhuma delas até conhecer Arash e sua vida de vampira solitária mudar um pouquinho, pelo menos.
02
Se você é um daqueles que já estava decepcionado com os filmes de vampiros (nos últimos anos, tivemos pérolas como Deixa Ela Entrar e Amantes Eternos, mas também tivemos as framboesas de ouro, como a saga Crepúsculo), cry no more! Descrito por sua diretora, Ana Lily Amirpour, como o primeiro “faroeste espaguete vampiresco iraniano”, Garota Sombria Caminha pela Noite chegou pra revolucionar o gênero. O primeiro longa da diretora tem muita influência dos faroestes espaguetes de Sergio Leone, Tarantino e, o que eu achei sensacional e dá pra sentir em seu do começo ao fim, David Lynch. Os tempos áureos do universo surreal de Lynch parecem voltar à vida com Amirpour, uma iraniana-americana que teve a linda audácia de fazer seu filme todo em preto e branco e falado em persa. E Lynch aparece já na estética do preto e branco do filme, nos lugares escuros, sombrios e solitários, revivendo Eraserhead (veja o trailer AQUI). E aí algumas cenas também são muito lynchianas, como a em que o pai de Arash está na sala tendo um surto de abstinência e a câmera inclinada mostra o lugar como uma caixa e o homem se debate como se estivesse preso ali, seus movimentos acelerados pela câmera, nos fazendo sentir asfixiados e enclausurados. E tem também a cena final, em que a câmera mostra a estrada à frente, e lembra muito A Estrada Perdida (trailer AQUI). E que tal a cena da drag dançando com um balão? É surreal, lindo e muito poético. A influência de Leone aparece em outras cenas, como a em que Arash aparece dirigindo seu carro, com o fundo da cidade passando rapidamente atrás dele enquanto ouvimos uma trilha bem western.
03
Bom, o filme parece uma colcha de retalhos poéticos de diversas referências à cultura pop que resultaram num filme espetacular. A história é simples, mas a solidão e o isolamentos dos personagens faz tanta referência ao momento em que vivemos que não tem como não simpatizar com suas dificuldades, ânsias e medos. Você logo vai estar torcendo pelos personagens e completamente envolvida na história.
04
Se vale a pena assistir? Sim, no cinema! Vou de novo esta semana, pra aproveitar enquanto filme está na telona. Filme assim tem que ver na telona, e curtir cada momentinho da maneira como ele foi pensado pra ser curtido: grande e extravasando poesia.
Nota:

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