Mare of Easttown

Onde assistir
Com elenco e roteiro de alto nível, a HBO entrega um drama investigativo viciante

A cada história, a HBO eleva seu padrão de qualidade ao retratar a vida cada vez mais próxima da realidade, com técnicas de dramaturgia que sempre impressionam. A nova minissérie, Mare Of Easttown, é mais um exemplo da maestria com que o canal conduz suas narrativas, sempre munidos de uma direção espetacular e um elenco que poucos canais podem se gabar de ter. Mesmo sem o mesmo buzz ou investimento de divulgação que The Undoing teve, Mare of Easttown, se tornou um grande sucesso e se beneficiou pela expectativa com a estreia da HBOMax à América Latina além, é claro, de ser transmitida no horário nobre de domingo na tv a cabo. A minissérie se passa em uma pequena cidade da Pensilvânia, onde Mare Sheehan (Kate Winslet) investiga o assassinato de uma adolescente. Ao mesmo tempo, ela precisa lidar com questões mal resolvidas do seu passado e da sua vida em geral, que começa a desmoronar quando várias revelações, envolvendo esse assassinato e outros crimes, vem à tona. A trama nos envolve numa investigação sombria que toma conta de toda a comunidade de Easttown.

Séries investigativas são sempre empolgantes, mas muitas delas já mostraram tudo o que a gente poderia esperar. Acontece que no roteiro minucioso de Brad Ingelsby, todas as apostas estão fora de cogitação, e você deve esperar reviravoltas muito inteligentes que nos instigam até os últimos minutos do finale. A tensão também é trabalhada com várias nuances que não enjoam e não forçam a barra, equilibrando muito bem os momentos de seguir com a investigação e os momentos de desenvolver os personagens, que para uma série de apenas 7 episódios, conseguiu encaixar todas as peças sem deixar ninguém do elenco de fora. Esse trabalho contribuiu muito para que as cenas de impacto realmente tivessem o efeito pretendido. O interessante é ver que além de conseguir fazer com que a gente conheça todos os personagens a fundo, muitos temas são abordados de uma forma orgânica, como abuso sexual, cárcere privado, stalking, assassinato, luto, família e saúde mental. Muitos deles parecem ter saído direto dos noticiários ou da casa da vizinha, de tão relacionáveis e reais.

Mare é o coração de Easttown, um lugar tomado por tragédias. Acompanhamos todas as suas frustrações e decepções pelo seu ponto de vista e as consequências de suas ações irradiam todas as outras subtramas. Sua presença é realmente muito forte para a comunidade pelo seu altruísmo, mas o roteiro não pega o caminho mais fácil para tratar da sua protagonista como um ser imaculado ou digno de pena, mas trabalha suas falhas através de intenções nobres – que mereceram até meia dúzia de tapas numa certa hora – sem tentar vender para o público uma mulher inabalável, muito menos o tipo óbvio de uma mulher amarga e deprimida. Há muito o que se atentar com relação à vida conturbada de Mare, pelo fato de ser divorciada, ter pedido um filho e estar preocupada com a saúde mental de seu neto, sem contar no modo como ela tenta reprimir todos esses sentimentos mergulhando no caso de assassinato que ela investiga. E essa vulnerabilidade, que desabrocha mais nitidamente no episódio 6, cria o melhor momento de Kate Winslet na série, com uma entrega emocional que vai fazer todo mundo chorar. Mas a série também conta com outros ótimos atores que dão o melhor suporte à sua estrela principal, em destaque Evan Peters (WandaVision), que interpreta o investigador Colin Zabel. Só mesmo o ator para conseguir segurar uma cena tão bem ao lado do fenômeno que é Winslet.

Com muitas revelações na manga, os episódios são recheados de surpresas e dão sempre uma lição de como deixar o espectador aflito, sem contar no desfecho que é altamente satisfatório. Mare of Easttown faz valer aquele sentimento prazeroso de acompanhar algo sem parar até o final. Com uma bela direção de Craig Zobel, diálogos certeiros e uma trama viciante, essa é uma ótima sessão de maratona que vai deixar todo mundo à flor e muito curioso para saber quem matou Erin. Mais uma consagração para Kate Winslet, que deve ser nome certo nas premiações do ano que vem.

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