Oleg e as Artes Raras

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Documentários são um mundo à parte dentro do universo cinematográfico. Estamos tão acostumados a ver personagens que saíram da imaginação de algum ser criativo que às vezes fica difícil se deparar com algum tipo de realidade bem real, de verdade, que existe em algum lugar deste mundão (ou até fora dele). Claro que estas realidades não deixam de ser construídas, de certa forma, pois o diretor/produtor/roteirista/editor e sei lá mais quem está de certa forma dando ritmo àquela coisa, dando forma, fazendo as perguntas que acha importantes, cortando fora o que não serve para expressar suas ideias quanto ao assunto, e assim por diante (então no fundo não deixa de ser ficção, né?). E de repente foi por causa disso que o documentário “Oleg e as Artes Raras” é, assim, tão raro: o diretor Andres Duque soube não fazer um documentário, e o que ganhamos é a simples e genuína companhia, por meros 67 minutos, de uma figura intrigante.

Ouvir as histórias de um senhor de 90 anos já é sensacional, imagina um que passou por várias “Rússias” desde 1927 e é um músico nada tradicional. Este é Oleg Nikolayevich Karavaychuk, retratado no documentário em questão. Na verdade, não dá pra dizer que ele foi retratado no documentário; no máximo damos uma espiadinha na vida dele. A primeira imagem que temos de Oleg é dentro do Hermitage, um importante museu (um dos maiores e mais antigos do mundo) em São Petersburgo. Lá ele primeiro nos conta como às vezes é difícil chegar ali em dias de neve até o joelho, fala brevemente sobre alguns momentos de sua carreira, e logo temos uma demonstração de suas habilidades ao piano. Depois caminhamos com ele pela cidade, ele falando sobre a vizinhança, sobre o passado, e sobre um presente que parece não oferecer os mesmos sabores e aromas de um passado que parece ter existido há centenas de anos. E você, de repente, está hipnotizado por aquela figura enigmática, e poderia ficar ali por horas ouvindo suas histórias, mesmo que não tenham uma sequência, um sentido, ou sequer o levem a algum lugar ou conclusão concreta.

E assim Duque nos leva por um passeio por um lugar perdido no tempo e no espaço, como se uma porta tivesse sido aberta para uma dimensão muito longínqua. E Oleg, que parecia um pouco ressabiado e pouco à vontade no começo, parece não ligar mais para a câmera, como se a tivesse adotado como uma amiga, e fala de tudo. Até se deixa filmar enquanto tira um cochilo, logo após o almoço, ainda sentado à mesa em um restaurante. E nos sentimos conectados a Oleg, de alguma forma. E também ao passado que ele representa.

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