Ricki and The Flash: De Volta pra Casa

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O passado é uma porta cuja campainha sempre está tocando, e é nele que se pode entender muito do presente. É mais ou menos com essa premissa que Ricki and the Flash: De Volta pra Casa, dirigido por Jonathan Demme, traz uma mulher na casa dos sessenta anos que vive num rock way of life, tendo que juntar todas as peças deixadas pelo caminho nos últimos 30 anos e tentando resolver várias situações.
Em Ricki and the Flash, Meryl Streep é Ricki Rendazzo (nome artístico para Linda Brummel), uma mulher que há trinta anos abandonou a família para viver a sonhada vida de vocalista e guitarrista de banda de rock na Califórnia. Ricki não é bem sucedida aos olhos da sociedade americana, tão sonhadora com a estabilidade e jardins com a grama bem aparada. Ela trabalha de caixa em uma loja de produtos naturais, mora sozinha e toca com a sua banda “The Flash” em um bar na cidade de Tarzana.
Recebendo uma ligação do ex-marido, Ricki descobre que sua filha está sofrendo com um processo de divórcio e um pouco a contragosto decide que é o momento para voltar. É no retorno que que o espectador passa a conhecer Ricki e como ela se tornou a vocalista do Flash, como sempre está montada em seu estilo de garota má e parece ter controle de suas escolhas. O contraste da vida escolhida e a vida deixada pela protagonista começa a dar as caras. Ricki, com suas roupas de couro e estilo despojado destoam da casa organizada e padrão de classe alta que sua família ostenta. Os três filhos dela não se sentem muito à vontade na presença de uma mãe que pouco conviveram e de quem discordam das escolhas. A trama gira em torno desse retorno, das pontas deixadas para trás no passado de Ricki/Linda.
O longa faz muitas apostas interessantes no quesito de roteiro. Um é retratar a vida de uma mulher acima dos 50 anos, o que não é nada fácil e pouco atrativo para o cinema comercial. Claro que, em se tratando de Meryl Streep tudo pode funcionar, mas o fato é que Ricki é uma verdadeira outsider, uma personagem que o espectador pode ter dificuldades de aceitar. Há o fato de Ricki não estar em cena para fazer a jornada da heroína que percebe que algo está errado e precisa da mudança. “Ricki” é mais sobre aceitação de que o que está feito, está feito de fato e que apenas o que vier é passível de mudanças e adaptações.
A roteirista Diablo Cody vem construindo uma identidade própria em compor suas histórias e personagens. Desde “Juno”, passando por “Jovens Adultos”, a roteirista foge dos estereótipos idealizados de mulheres e suas próprias trajetórias e por isso seu trabalho não é simplista e tampouco simpático a um grande público. São personagens repletas de defeitos e dramas particulares. Ricki, por exemplo, é uma roqueira, fumante, tem um estilo de vida alternativo e alheio ao comum americano, mas ao mesmo tempo é republicana, contra Obama e conservadora quando se trata do filho homossexual. Ou seja, paradoxos tão próximos dos reais que podem causar desconforto.
Apesar de Meryl Streep ser comprovadamente uma das grandes atrizes do cinema, em Ricki and the Flash algo parece estar em discordância, ela parece estar um pouco desconfortável no papel, parecendo um tanto caricata, um dos problemas do longa. Meryl aprendeu a tocar guitarra para interpretar Ricki Rendazzo e domina bem as cenas no palco. Não por menos, ela atua com o guitarrista Rick Springsteen e outras figuras que circularam em bandas como as de Neil Young e o Funkadelic. A atriz contracena também com sua filha Mammie Gummer, o que maximiza a relação entre mãe e filha no filme.
Talvez Ricki and the Flash não vá render um Oscar à Meryl Streep ou a direção de Demme. O longa é mais uma construção para o que Diablo Cody vem fazendo em seus roteiros em construir anti-heroínas, cheias de defeitos em que sendo expostas na narrativa não vão dar grandes esperanças ou lições de moral, são apenas mulheres comuns querendo purgar seus defeitos, seus passados, seus erros e acertos. E afinal, é assim que a vida é, não é mesmo?

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