The Boys In The Band

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Novo filme da Netflix debate a intolerância com humor e verdade.

Numa reunião casual de 9 amigos gays sempre existem as fases do rolê, a expectativa para a chegada dos convidados, a quebra do gelo entre eles, junta aí umas bebidas e assunto é o que não vai faltar. Nesse caso é tiro, porrada e bomba. A sobra de humor vai nos soltando enquanto a gente se prepara para grandes momentos e atuações impecáveis no novo filme da Netflix.

The Boys In The Band, dirigido por Joe Mantello e produzido por Ryan Murphy, criador da série antológica American Horror Story e da mais recente Ratched, se baseia na famosa peça de teatro, escrita por Mart Crowly, para contar a história de um grupo de amigos gays que se juntam para comemorar o aniversário de Harold (Zachary Quinto). Dentro do bonde estão pessoas reais que facilmente nos relacionamos dentro do universo gay. Hank (Tuc Watkins) é o homem forte que aparenta ser hétero, Larry (Andrew Rannells) é o promíscuo que preza por sua liberdade, Bernard (Michael Benjamin Washington) é o negro intelectual, Emory (Robin de Jesus) é o afeminado, Tex (Charlie Carver) é o musculosinho sem cérebro, Donald (Matt Bomer) é o amigo que todos desejam e Michael (Jim Parsons) é o ressentido. O fator surpresa da noite fica a cargo de Alan (Brian Hutchson) o amigo hétero de Michael. Na Nova Iorque de 1968, quando a peça estreou, o tema era algo proibido até de se pensar. A coragem de colocar em destaque 9 homens gays no palco parecia loucura e quando olhamos ao nosso redor em 2020, muita coisa mudou com relação a isso. A peça ganhou um revival em 2018 com o mesmo elenco do filme que acabou levando um prêmio Tony para casa.

Jim Parsons que conduz toda a narrativa, fica responsável por criar mais um personagem detestável porém carismático ao mesmo tempo, assim como trabalhou seu famoso Sheldon em The Big Bang Theory e até Henry Wilson na série Hollywood. O comportamento de seus amigos, transborda um sentimento de ameaça a sua autoestima que custa aceitar sua condição de homossexual na sociedade, confrontando inseguranças financeiras e também de idade. As alfinetadas entre os amigos e os relacionamentos entre alguns deles que deixam pontas soltas são o combustível para que Harold e Michael tomem conta do ringue e disparem as verdades mais dolorosas um para o outro. Assim que o parabéns é cantado, a chuva no terraço do apartamento anuncia o grande clímax do filme. Nesse momento entramos num jogo sincero em que os personagens abrem seus corações e remoem sentimentos que nem sempre são ditos em voz alta. Lidar com a decepção do amor e suas ansiedades de romances mal resolvidos, muda o rumo da noite. O verdadeiro fim de festa. A intolerância e os olhares de julgamento da sociedade faz o papel principal e emprega toda a carga dramática sobre a luta interior constante de querer ser quem é, mas não poder, pelo menos não em público e, certamente não em 1968. Alguma semelhança com 2020?

O roteiro, mesmo que muito bem adaptado para a tela, ainda escorrega em longos diálogos principalmente do personagem de Zachary Quinto, que entrega uma performance grandiosa, mas que delonga suas falas de maneira dispersiva. Quem ganha o melhor momento é Bernard em um monólogo emocionante e muito bem medido. Inclusive, a imaginação e as narrações dos personagens, sobre histórias passadas, tomam forma visual aqui, diferente da peça de teatro. A câmera usa isso ao seu favor e não foge tanto de uma encenação teatral, mas vislumbra tomadas cinematográficas sem perder o estilo intimista da produção. O que só faz o filme ganhar mais pontos. É sem dúvida uma produção imperdível, atemporal e brilhante. Um filme inesperado para muita gente e que pode surpreender nas premiações de 2021.

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