Viva

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O irlandês Paddy Breathnach faz de "Viva" uma jornada emocional

Nem mesmo as drag queens mais interessantes de RuPaul’s Drag Race tem a força e sentimento de Jesus, protagonista de Viva, co-produção entre Cuba e Irlanda. Ele é um aspirante a drag queen de Havana que precisa sobreviver à pobreza, à prostituição, ao pai abusivo e à tragédia familiar, sem esquecer que precisa fazer seus lábios sincronizarem com as músicas de suas apresentações, e nesse meio tempo encontrar um rumo para sua vida.

O diretor irlandês Paddy Breathnach parece nunca ter passado perto de nenhuma das aflições de Jesus, entretanto, Viva faz ele estudar bastante e ir fundo nos acontecimentos da vida de seu personagem. Ele trata sobre homossexualidade e preconceito, cai algumas vezes no melodrama, é verdade, mas fornece soluções para conflitos complexos com certa facilidade e sem cair na pieguice.

No filme, Jesus (Héctor Medina, de O Rei de Havana) é um garoto cubano de 18 anos tentando descobrir sua identidade. Incerto sobre o seu futuro, ele cuida das perucas em um clube de drag queens de Havana onde sonha em ser um performer. Quando finalmente tem a chance de subir ao palco, é agredido pelo pai, Angel (Jorge Perugorría, de Retorno a Ítaca), um ex-boxeador ausente da sua vida por 15 anos que está de volta após ter sido preso. Perante o conflito da nova convivência entre os dois, eles lutam para entender um ao outro.

O ator e roteirista irlandês, que escreveu o ótimo Adam & Paul, faz o possível através do roteiro de Viva, para se aprofundar nos sentimentos de Jesus. Enquanto Breathnach tenta mostrar um pouco mais das fachadas descascadas de Havana, como uma sensível apreciação turística — “É a favela mais bonita do mundo”, observa um personagem, embora não soe como o que um nativo da cidade diria, ainda assim parece ser verdade para aqueles que veem de fora.

O realismo de Viva se mostra uma mudança marcante na filmografia do diretor que estava mais acostumado com thrillers de horror e embora a verdadeira razão do retorno do pai de Jesus seja tão previsível quanto a construção da relação entre eles, seus atores fazem deles personagens tão honestos que você se vê envolvido em suas histórias.

É nas apresentações do clube que Viva realmente encontra a sua voz. Isso se dá, em grande parte, pela presença de Mama (Luis Alberto Garcia, de Juan dos Mortos), uma espécie de pai substituto para Jesus. Aos poucos vamos percebendo que o longa é sobre aceitação, Jesus precisa aceitar seu pai como ele é e vice-versa, sem pedir nada em troca. E é na família, como mostra o último plano do longa, durante os créditos finais, que vamos encontrar a força para lutar contra as adversidades cada vez maiores no mundo.

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